Comidas, bebidas e outras paradas que deixaram saudade

| COZINHA BRUTA/MARCOS NOGUEIRA


Os biscoitos Globo, símbolo carioca, cuja fábrica fechou em abril de 2020 (foto: Marcos Nogueira)

Comer biscoitos Globo no Posto 8 ½ de Ipanema, apenas para azucrinar os amigos cariocas –dizendo que há outros biscoitos de polvilho muito melhores. O chope quase insípido, mas muito fresco e gelado, dos botecos do Rio de Janeiro.

O garçom do boteco chegando com uma garrafa de cerveja esbranquiçada, coberta por uma fina camada de gelo. A fascinante geladeira (e suas temperaturas negativas) onde ficam as cervejas do boteco.

A mesa amarela de plástico do boteco. A cadeira dobrável enferrujada do boteco. O banheiro infecto do boteco. O boteco.

Beber com os amigos no boteco. Beber em casa com os amigos. O amigo que traz cerveja vagabunda e bebe cerveja boa. O churrasco com os amigos. O cheiro de churrascaria.

O cheiro de pão quente na padaria. O café da manhã na padaria. Comer um pedaço de pizza no balcão da padaria. A chegada de uma pizza nova à estufa do balcão da padaria –convidando para mais um pedaço.

A espera por uma mesa no almoço de sábado, quando inclui cerveja, caipirinha e petisco. Rasgar com as mãos o pãozinho do couvert. Devorar os pasteizinhos da entrada. Meter o garfo no prato do vizinho para provar o prato dele. Pedir uma sobremesa para rachar, com quatro colheres.

O garçom que corta o bife com uma colher. O garçom que serve o arroz com duas colheres. O garçom que você chama pelo nome.

Cozinhar para pessoas queridas que não moram com você. Ouvir elogios falsos quando a comida fica uma porcaria.

Comprar frango assado para o almoço de família no domingo. Tomar um chope enquanto espera o frango. As brigas do almoço em família. As sobras do almoço que a mãe embrulha para você.

Os salgadinhos de festa infantil. O vinho sofrível do lançamento de livro. A degustação de qualquer coisa no supermercado.

Comida de avião, por motivos alheios à comida em si. Beber vinho em copinho de plástico na classe econômica. A primeira refeição no país que você acabou de conhecer. A primeira refeição boa no país que você acabou de conhecer. O primeiro pifão da viagem.

O misto morno e triste do room service. A alegria de descobrir que o desjejum do hotel tem uma estação de omeletes e tapiocas. A felicidade de beber champanhe às oito da manhã, quando o hotel é realmente caro.

O primeiro prato de arroz com feijão –estrogonofe, lasanha etc.– na volta da viagem.

O camarão frito do quiosque de praia. O pastel da feira. O vinagrete de repolho, melhor do que o pastel. A pipoca fedegosa do cinema. A calabresa de porta de estádio. O sanduíche de pernil na madrugada. O hambúrguer gorduroso do pós-balada.

Fiscalizar o fluxo da chapa da lanchonete. Estudar o trabalho do sushiman. Analisar as manobras do pizzaiolo.

As cores do balcão da sorveteria. Provar 17 sabores para escolher chocolate e pistache, como sempre. Ou limão e maracujá, nos dias quentes demais.

Pedir o café e a conta. Receber somente o café. Pedir a conta.

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