A moagem de cana-de-açúcar do centro-sul do Brasil alcançou 22,38 milhões de toneladas nos 15 primeiros dias deste mês, o segundo maior volume histórico para uma primeira quinzena de abril, que marca o início oficial da safra da principal região produtora do país, informou a nesta quarta-feira a Unica, entidade que representa as indústrias do setor.
A moagem ficou acima das 19,4 milhões de toneladas projetadas em uma pesquisa da S&P Global Platts. O aumento no volume moído fez disparar a produção de etanol em 32,7%, para 982 milhões de litros, com o setor destinando 60,3% da cana para o biocombustível.
Com o tempo seco favorável à moagem na região, a produção de açúcar mais que dobrou, para 948 mil toneladas.
De outro lado, devido às medidas de isolamento para combater o coronavírus, as vendas de etanol despencaram, com as receitas do setor com o combustível neste início de safra caindo quase 50% na quinzena, o que fez a Unica alertar novamente que são urgentes medidas governamentais de apoio à indústria no início da temporada, como financiamento da estocagem do biocombustível.
“O anúncio de medidas emergenciais é absolutamente urgente e necessário para reduzirmos o risco de colapso das atividades do setor”, disse o diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, em nota.
Para ele, o que está em jogo é a manutenção de toda uma cadeia produtiva e de seus milhares de empregos.
“O avanço da produção e a baixa demanda pelo combustível exigem linhas financeiras para viabilizar a armazenagem de etanol pelos produtores. Estamos no início da safra e é no período de moagem que ocorre o maior desembolso para pagamento dos custos de produção...”, explicou Padua.
Enquanto usinas com mais fôlego financeiro conseguem segurar vendas de etanol ou se dedicar mais à produção de açúcar, que tem sustentação do câmbio para a exportação, algumas empresas não possuem outra opção a não ser fabricar e vender o biocombustível para levantar recursos.
O setor diz que não há restrição de tancagem física nas usinas e destilarias, com capacidade de armazenamento de etanol superior a 17 bilhões de litros.
Além dos recursos para estoques de etanol, que serviriam como garantia dos financiamentos, a Unica quer redução do PIS/Cofins para o biocombustível e aumento do tributo Cide na gasolina, concorrente do etanol hidratado.
MOAGEM E VENDAS
Com o tempo favorável aos trabalhos, o volume de processamento de cana na primeira quinzena ficou atrás apenas das 32,94 milhões de toneladas registradas no mesmo período de abril de 2016/2017.
No comparativo com igual período do ano passado, houve um crescimento de quase 8,5 milhões de toneladas, ou 61%.
“Esse resultado mostra o esforço do setor sucroenergético em iniciar a safra, a despeito de todas as dificuldades decorrentes da pandemia do novo coronavírus e da disputa entre os produtores de petróleo”, disse o diretor-técnico da Unica.
Até 16 de abril, 178 unidades produtoras já estavam em operação no centro-sul (destas, seis produzindo etanol de milho), ante 157 usinas na mesma data do último ano.
A expectativa da Unica é de que outras 32 unidades iniciem a safra na segunda metade de abril e mais 29 comecem a operar em maio.
“Cabe lembrar, porém, que 20 unidades postergaram o início de suas atividades para quinzenas subsequentes devido ao cenário atual, incerto e preocupante”, ressaltou Padua.
As unidades produtoras da região centro-sul comercializaram 799 milhões de litros de etanol nos primeiros 15 dias de abril, queda de mais de 30% ante o mesmo período do ano passado.
Desse total, as vendas de etanol hidratado ao mercado interno somaram 560,48 milhões de litros, queda 35,77% frente à mesma quinzena de 2019.
Em relação ao etanol anidro, foram 201,20 milhões de litros comercializados domesticamente, contra 302,91 milhões de litros no ano anterior.
Do total comercializado, cerca de 37 milhões de litros foram para o mercado externo, ante aproximadamente 7 milhões no mesmo período do ano passado (Reuters, 29/4/20)