Padre de MS convoca missa para pedir "perdão a Deus" após menina de 10 anos ter gravidez interrompida no PE

Padre Ricardo Celso fez publicações em redes sociais chamando população de Ladário (MS) para participar da missa.

| G1 / JOãO PEDRO GODOY, G1MS


O padre Ricardo Celso, da paróquia de Ladário, próxima da fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia, convocou católicos para uma missa na cidade nesta segunda-feira (17), que seria realizada para "pedir perdão a Deus" após a menina de 10 anos estuprada pelo tio ter a gravidez interrompida no Pernambuco.

De acordo com a postagem do pároco, a missa, que já seria realizada normalmente, também seria para orar "pedindo a Deus perdão pelo assassinato de uma criança no ventre de uma mãe criança". O padre ainda continua, afirmando que "se a Covid-19 matou mais de 100.000 brasileiros o aborto é uma praga que mata muito mais".

Procurado, o padre Ricardo Celso disse que as missas acontecem todos os dias, mas fez as publicações convocando os católicos para a celebração após ler a opinião de Dom Ricardo Hoepers, Bispo Presidente da Comissão Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), intitulado "Por que não viver?". "Vivemos em um país em que o valor da vida se torna descartável e a proteção das crianças se torna uma utopia. Aqui fazemos a defesa de duas vidas, enquanto quem causa mal às nossas crianças segue impune", salientou o pároco ao G1 MS.

"Gestação causava profundo sofrimento"

A ordem para interromper a gravidez foi do juiz Antônio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do Espírito Santo, atendendo a um pedido do Ministério Público daquele estado.

Um dos profissionais que atendeu a criança relata, na decisão judicial, que “ela apertava contra o peito um urso de pelúcia e só de tocar no assunto da gestação entrava em profundo sofrimento, gritava, chorava e negava a todo instante, apenas reafirmando não querer". Na decisão que autorizou a interrupção da gravidez, o juiz se baseia na Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, editada em 2005 pelo Ministério da Saúde, para autorizar a interrupção da gestação.

Segundo o magistrado, a norma “assegura que até mesmo gestações mais avançadas podem ser interrompidas, do ponto de vista jurídico, aduzindo o texto que é legítimo e legal o aborto acima de 20-22 semanas nos casos de gravidez decorrente de estupro, risco de vida à mulher e anencefalia fetal'. O promotor Fagner Cristian Andrade Rodrigues defendeu o aborto como um direito da menor, inclusive para que ela possa se recuperar dos danos psicológicos causados pelo estupro.

Entenda o caso

A criança de 10 anos engravidou depois de ser estuprada, em São Mateus, no Norte do Espírito Santo. O crime foi denunciado pela menina para a polícia no último dia 7. O principal suspeito é o tio da vítima. Para a polícia, a menina contou que era vítima do crime desde os seis anos e que não denunciou com medo das ameaças. Ele tem 33 anos e foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça, mas está foragido. O caso é investigado pela Polícia Civil e será acompanhado pelo Conselho Tutelar.

A criança chegou a ser internada no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), em Vitória, mas a equipe médica do Programa de Atendimento as Vítimas de Violência Sexual (Pavivi) se recusou a realizar o procedimento no sábado (15). Com isso, ela viajou para Pernambuco, onde realizou a interrupção da gravidez.



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