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Show da Paz, rock em cima de caminhão
| ASSESSORIA
O movimento cultural em Dourados nos anos 80 foi efervescente, fruto, principalmente, de eventos como o Fempop, que deu a partida no final da década de 70, sinalizando que muita coisa iria acontecer no setor musical.
O Frutos da Terra, coordenado por Luiz Carlos Pael, que era produtor musical da Grande FM, por exemplo, marcou época na primeira metade da década de 80, com quatro edições nos cines Ouro Verde e Ouro Branco.
O Frutos da Terra nasceu nas mesas da Samambaia, um dos points favoritos da moçada daquela época, como sugestão do movimento alternativo. No entanto, a Prefeitura de Dourados assumiu a promoção. E, após duas edições, ocorreu um racha por conta de divergências entre promotores e artistas, culminando com o surgimento do Show da Paz.
Segundo Ilson Venâncio, o Boca, o grupo “Nóis Num Liga”, liderado por Miguel Oliveira, o Miguelzinho, foi impedido de participar da primeira edição do evento. Aí, parte do pessoal caiu fora e foi promover o Show da Paz.
O Show da Paz foi realizado em quatro edições: 1986, 1991, 1999 e 2000. Ilson Venâncio, o Boca, Manão, Miguel de Oliveira e o jornalista José Henrique Marques foram os coordenadores nas duas primeiras edições do evento. Nas duas últimas edições, o cabeleireiro Daniel Oliveira substituiu Miguelzinho que morreu em 1997.
A primeira edição, em frente à Praça Antônio João, na Marcelino Pires, foi realizada em cima da carroceria de um caminhão, já que não houve tempo para a montagem de um palco mais adequado.
Além de músicas, o Show da Paz também tinha várias outras atrações no centro da cidade, como capoeira, artesanato, poesia, dança e exposição de quadros e de fotografias.
A edição do Show da Paz de 1999, realizada em dois dias, foi gravada pela TV Educativa do Estado, em quatro vídeos, mostrando o trabalho de 12 grupos musicais não só de rock, mas, também, de outros ritmos, incluindo sertanejo e hip hop. (no youtube, digite Show da Paz Dourados).
E, ainda, foi lançado um CD com participação de todos os grupos musicais. Portanto, um documento histórico que marcou o final da década de 90 e a luta do movimento alternativo que nasceu nos anos 80 nas mesas da saudosa Samambaia, na Avenida Presidente Vargas.
O coordenador do Varal de Poesias, Carlos Magno Amarilha, hoje é um dos coordenadores da Comissão de Revisão Histórica de Dourados e, também, do Grupo Literário Arandu.
Vale lembrar que a Funced (Fundação Cultural e de Esportes de Dourados) foi criada na administração do prefeito Luiz Antônio Gonçalves (1983/88), após intensa revindicação do movimento cultural alternativo. Com a cultura institucionalizada, deu no que deu. Ou seja, o movimento alternativo voltou para a mesa do bar, sob os olhares incrédulos dos copos. E dos cinzeiros.
No entanto, a Funced, a princípio, fez um bom trabalho. Entretanto, depois, as coisas foram caindo num marasmo danado. Mesmice. Clichê. E o movimento alternativo, com isso, também foi desaparecendo.
Isso aconteceu, numa época em que todos temiam pelo fim do Mundo em 2000, conforme, até então, às badaladas profecias de Nostradamus.
Além disso, tinha o tal do “Bug do Milênio” na informática que, felizmente, não passou de medo e de fantasia na entrada do ano 2000...
Fotos: Acervo Ilson Venâncio

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