Esportes
A história peculiar de uma aposta do basquete brasileiro
Stephanie Soares, de 20 anos, tem talento e trajetória incomuns
| IGOR SANTOS
Há exatamente um ano, a seleção brasileira feminina de basquete vivia um dia memorável. A vitória contra os Estados Unidos na final dos Jogos Pan-Americanos de Lima deu ao time a medalha de ouro, algo que não acontecia desde 1991. Para muitas atletas daquele grupo, foi o momento de, enfim, saborear uma grande conquista pelo país depois de anos com o Brasil no papel de coadjuvante. Para Stephanie Soares, à época com 19 anos, era só um começo mais do que promissor para a caminhada. A mais nova daquele grupo, Stephanie relembra como foi a farra depois da vitória: “Nossa, já era muito tarde, acho que uma da manhã e ainda estávamos dançando no ônibus, todo mundo muito feliz'.
Não foi a primeira participação dela na seleção principal, mas, de uma certa forma, ali a presença dela no time passava a ser para valer. A jogadora apareceu logo na primeira lista de convocadas pelo técnico José Neto, que assumiu pouco antes do Pan. No Peru, Stephanie teve um papel secundário, ficando, em média, 16 minutos por jogo em quadra. Mas Neto sempre soube que esse é um projeto a longo prazo.
“O propósito do nosso trabalho é realizar o desenvolvimento da modalidade. Então, temos em foco a evolução de alguns jovens. A Stephanie é uma dessas apostas que fizemos para esse desenvolvimento', relata Neto.
Tamanha demonstração de confiança de alguém que está no topo da pirâmide do basquete feminino do Brasil mostra o patamar que Stephanie atingiu. O que chama a atenção na história é que ela conseguiu exibir esse potencial mesmo com uma exposição relativamente reduzida.
A atleta pouco atuou no Brasil. Antes de explicar os motivos, vamos ao ano de 2017, quando o ADC/Bradesco, clube de Osasco, em São Paulo, fazia uma peneira que acabou infrutífera. Ninguém se destacou. Até que chegou uma menina de quase 2 metros de altura e encantou o técnico Cristiano Cedra.
“Já tínhamos encerrado as atividades e ela apareceu com a mãe. Resolvemos dar uma chance. Ficamos impressionados não só com o basquete, mas também com a postura. Se ela tivesse chegado dez minutos depois, nunca teria acontecido', relembra.
Aquela experiência de seis meses no ADC/Bradesco foi a única de Stephanie como atleta federada no Brasil. O motivo para isso é que os Estados Unidos são parte integral da vida dela.
A mãe de Stephanie, que a levou na peneira, é americana. Susan foi jogadora de basquete universitário na década de 80. Ela se casou com Rogério, que também jogou basquete. A mistura dos genes rendeu uma nova geração de apaixonados pelo esporte, que inclui Stephanie e os irmãos Tim, Jessica e Tiago.
Stephanie conta que sempre morou no Brasil, mas as visitas às terras americanas para ver aquele lado da família são bem comuns. Durante a entrevista, em determinados momentos, as ideias vêm primeiro em inglês, e o termo equivalente em português escapa.
As visitas se tornaram mais longas por conta do basquete. Stephanie também jogou no high school (ensino médio americano) e vai agora para a terceira temporada no basquete universitário, onde defende a Master's University, localizada em Santa Clarita (Califórnia). E a grande razão para a comissão técnica da seleção brasileira depositar tanta esperança nela é justamente o que ela tem feito por lá.
Stephanie já havia tido bastante destaque no primeiro ano de faculdade, mas na segunda temporada alcançou um nível significativamente mais alto. Na tabela de estatísticas da Naia, liga da qual a Master's University faz parte, Stephanie foi a líder em tocos (4,9) e rebotes (13,6) por jogo e a segunda maior cestinha, com média de 20,7 pontos por partida. A performance dela ajudou a equipe a realizar a melhor campanha da história da universidade, com 29 vitórias em 32 jogos. No final de março a brasileira foi reconhecida com uma honra inédita para a instituição. Pela primeira vez na história, uma atleta da Master's University foi escolhida a melhor do ano pela liga.
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