Pontos de atenção na adequação ao IFRS S1 e S2 e CVM193 - *Por Jefferson Kiyohara

| ASSESSORIA


As empresas no Brasil, especialmente as de capital aberto, iniciaram o processo de adequação às novas normas IFRS S1 e S2, bem como à CVM 193. A fase de entendimento do conteúdo e análise de lacunas avançou, e agora testemunhamos a busca pelas adequações e melhorias necessárias.
 

Sob a ótica da governança corporativa, conselheiros e executivos devem fornecer as diretrizes estratégicas e estar atentos às armadilhas dessa jornada. Neste artigo, listo 6 pontos de atenção que as organizações precisam considerar:
 

Superficialidade de conhecimento sobre o tema e falta de patrocínio pela Alta Direção – Ainda existem empresas em que os membros da Alta Direção não receberam treinamento formal sobre o tema e não têm um plano estruturado para garantir a conformidade da organização. Há também iniciativas conduzidas pelos níveis gerenciais, sem o devido apoio da Direção. Sem o suporte da Alta Direção, sabemos que a iniciativa estará fadada ao fracasso e provavelmente ficará desconectada da estratégia da organização, trazendo riscos para a empresa.

Não envolvimento da Liderança da Controladoria – O reporte de sustentabilidade precisa ter a mesma relevância dos demonstrativos financeiros, e ambos devem estar em sincronia. A falta de envolvimento da liderança responsável pelo novo processo e pelos reportes indica a necessidade urgente de ajuste de rumo.
 

Inexistência de plataformas e workflow – Basta fazer um paralelo com os demonstrativos financeiros, cujas informações são obtidas por meio de um ERP, para entender que não é viável ter um relatório de sustentabilidade baseado apenas em planilhas, e-mails e inputs manuais. Confiabilidade da informação, amarração de dados, rastreabilidade, trilha de auditoria e repositório de evidências são essenciais. Reguladores, o mercado financeiro e outros stakeholders exigirão informações precisas e confiáveis para a avaliação de riscos de cada negócio. Esse pilar demandará investimentos e planejamento orçamentário por parte das empresas.
 

Potencial conflito de interesses – Existem empresas cuja adequação ao IFRS S1, S2 e CVM 193 é realizada pela mesma consultoria que audita ou já auditou seus demonstrativos e relatórios. É necessário ter atenção a eventuais conflitos de interesse e vieses. Acionistas, conselheiros e investidores já observaram esse cenário antes e devem questionar se há a independência necessária para apontar os reais riscos aos quais a empresa está exposta. A rotatividade e oxigenação podem ser uma oportunidade para trazer novas perspectivas à organização.

Inexistência ou incompletude do mapeamento de riscos ESG e climáticos, e sua desconexão com a gestão de riscos corporativos – A boa gestão de negócios inclui a gestão de riscos corporativos, e estes só estarão completos se contemplarem as questões ESG (não apenas os riscos ambientais) e os riscos relacionados ao clima. Isso ainda não é uma realidade predominante nas empresas brasileiras. Precisamos reverter esse cenário, adotando práticas já preconizadas pelo TCFD, que se conectam com as demandas do IFRS S2, e mapeando os riscos físicos e de transição. É importante também ter atenção à cadeia de suprimentos, especialmente aos fornecedores críticos.
 

Falta de conhecimento das áreas envolvidas no processo de reporte de sustentabilidade – Com novas regulamentações, novos processos são necessários. É fundamental definir esses processos, atualizar políticas e procedimentos e treinar todos os profissionais das áreas envolvidas. Um erro, intencional ou não, pode levar a falhas materiais na divulgação do relatório de sustentabilidade, com consequências como sanções para a organização e seus diretores estatutários.
 

A jornada apenas começou. Evitar as armadilhas mencionadas acima é essencial para o sucesso na conformidade regulatória e nos negócios.
 

* Jefferson Kiyohara é Diretor da consultoria Protiviti Brasil, responsável pelas soluções relacionadas a Compliance, ESG e Governança.



PUBLICIDADE
PUBLICIDADE