Influencer douradense ganha fama na internet após assumir os cachos

| O PROGRESSO


Mulher negra e empoderada. A influencer digital Amanda Brito tem sido inspiração para muitas meninas que se sentiam pouco representadas na internet. Atriz e cantora, a influenciadora que nasceu em Cuiabá (MT) e hoje mora em Dourados, ficou famosa após iniciar o processo de aceitação, assumindo os cachos e dando adeus a chapinha. 

A iniciativa de empoderamento começou em 2016  e hoje Amanda tem 247 mil seguidores no Youtube e 118 mil no Instagran.  Em entrevista ao O PROGRESSO ela fala sobre autoestima da mulher negra, os desafios para produzir conteúdo, sonhos e como superou o preconceito em relação a seu cabelo, que exibe com orgulho.    

O Progresso - Com o racismo enraizado no Brasil ao longo de sua história, inclusive com muitos casos na internet,  como você avalia a participação de mulheres negras como influenciadoras digitais?   Amanda Brito - Eu acho muito importante mulheres negras trabalharem como digital influencer, pois a internet se tornou a maior rede de comunicação e as pessoas negras tem que ocupar e representar. Mas infelizmente, percebo que muitos não valorizam ou não consomem conteúdos de pessoas negras. Isso faz com que o crescimento na internet seja ainda mais dificil. Todavia acredito que por conta de tudo que estamos vivendo, as pessoas estão mudando em relação a isso, tanto marcas grandes quanto pessoas em geral estão começando a valorizar o conteúdo dessas pessoas. Porém tem muita coisa para melhorar ainda, e as pessoas negras tem muito o que ocupar. 

Quando você decidiu ser influenciadora e qual a missão do teu canal? Que mensagem você deseja passar aos seguidores com esse instrumento de comunicação?

Eu tinha 16 anos (2016) quando decidi fazer um canal, eu criei com o intuito de poder criar, pois sempre gostei de gravar vídeo, editar, e ser reconhecida pelas pessoas. Mas eu não imaginava que eu iria chegar onde estou. Fiquei conhecida no YouTube depois que comecei a falar sobre meu processo de aceitação, quando eu decidi parar de alisar meu cabelo para aceitar os cachos. Relatei essa minha transição capilar na internet e muitas pessoas decidiram fazer o mesmo. Muitas dizem que se inspiraram em mim, para se aceitar cacheada ou crespa. Mas hoje, com o início da minha carreira como cantora, a mensagem que eu quero passar é sobre empoderamento. Quero que as mulheres além de se amar do jeito que são, possam viver a vida da forma que elas quiserem. 

Como você define o que  é importante para postar? É você mesmo quem produz os vídeos e demais conteúdos?

Nas minhas redes sociais, meu público alvo são mulheres negras, com o cabelo cacheado ou crespo. Tudo relacionado a cabelo cacheado, da muito engajamento. Mas acredito que isso tem mudado um pouco, desde que comecei minha carreira como artista/cantora, pois um outro público alvo começou a me seguir, que são os fãs da Amanda Cantora. Então sempre tento manter o equilíbrio entre dicas de beleza e coisas relacionadas as minhas produções artísticas. Sou eu mesma que produzo todos os vídeos do meu canal, no Instagram, gerencio as publicações,  até mesmo faço minhas fotos sozinha. Por isso minha agenda é sempre cheia, por conta de tudo que eu faço.

Como é ser influenciadora digital? Quais as vantagens e principais dificuldades?

É uma responsabilidade muito grande, pois meu público da muito valor ao que eu falo, ao que eu ouço, e até mesmo ao que eu indico. Então eu sempre tenho que pensar ou estudar antes de falar sobre algum assunto polêmico ou delicado. As vantagens é que eu já trabalhei com diversas marcas que amo, já conheci alguns lugares através do meu trabalho, além disso, conquistei muita admiração e confiança de quem me segue, é como se todas fossem minhas amigas. As dificuldades é sempre ter que inovar, alcançar novas pessoas a cada dia, produzir e criar coisas novas mesmo quando não estou trabalhando com marcas.

Qual o seu sonho?   Meu sonho é que o Brasil inteiro conheça a Amanda Brito. É importante dizer que além de cantora, influencer eu também sou atriz, então ser reconhecida no país inteiro por um dessas trabalhos, é o meu sonho. 

Por ser negra, você já sofreu algum tipo de preconceito? Acredita que houve ou ainda há alguma resistência em relação aos conteúdos que posta devido a sua cor de pele?

Sim. O meu cabelo, já foi alvo de piada nas ruas e até mesmo por familiares. Na internet isso quase nunca aconteceu, pois as pessoas que me seguem, lutam pela mesma causa. Quando eu comecei na internet, eu era insegura, estava aprendendo a me amar do jeito que sou, e por relatar a minha transição capilar, as pessoas da internet me ajudaram a passar por tudo isso de uma forma que eu me senti amparada, foi como se meus seguidores segurassem em minhas mãos. Hoje em dia eu sou mais segura, e me amo do jeito que sou. 

Na tua avaliação, quais os principais desafios para se vencer o preconceito?

Os principais desafios para vencer o preconceito são as pessoas ignorantes. Acredito que muitos fecham os olhos, os ouvidos, quando esse assunto vem à tona. Falar sobre racismo, preconceito, para algumas pessoas se tornou “mimimi”. E eu acredito que a família é o principal responsável pela educação de um criança, pelo modo de pensar e agir e  enquanto houver pessoas racistas e preconceituosas dando exemplo as crianças de que isso é certo. Acho que o desafio sempre será desconstruir isso da cabeça de um adulto e fazê-lo repensar sobre essas atitudes. 

Em quem você se inspira? Por que?

Me inspiro muito na Beyoncé, Tais Araújo, Iza, pois são mulheres negras, empoderadas e donas de si. E o melhor de tudo, representam a artista que eu quero me tornar. 

Falando de estética, até pouco tempo atrás infelizmente usava-se a expressão “ cabelo ruim” para classificar as madeixas que não eram lisas. Com isso muitas mulheres negras foram atraídas para a moda da chapinha. Você acredita que isto está mudando? Por que?

Acredito que sim. Porque assim como eu, existe muitas outras mulheres negras que passaram pela transição e isso acabou se tornando uma grande influência para várias meninas de todo o Brasil.

Que dicas você dá para quem sonha em voltar a ter os cachinhos definidos?

Pra quem quer voltar a ter o cabelo natural, a dica que eu dou é parar de alisar, de usar chapinha ou escova. Com o tempo o cabelo cacheado ou crespo vai crescendo natural, aí depois, é só fazer o famoso “big chop ” que é quando a pessoa corta todas as partes alisadas do cabelo e deixa apenas os cachos que nascem. 

Considerações

Estou lançando diversas músicas, e a última que irei lançar vai dar destaque a mulher preta. Assim que a quarentena acabar, quero reunir mulheres pretas de todos os jeitos, estilos, tonalidades para gravarem esse vídeo clipe. Quero encerrar o lançamento do meu Ep com chave de outro, e representar essas mulheres empoderadas.



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