Futebol
De olho em sediar uma Copa, Arábia Saudita negocia patrocínio de US$ 200 milhões para a Superliga Africana
Acordo poderia dar o apoio da CAF a futuras candidaturas da Arábia Saudita para sediarem a Copa do Mundo; Superliga Africana de clubes deve começar em outubro com oito clubes
| TRIVELA
A Arábia Saudita se tornou um dos maiores atores no futebol mundial nos últimos anos e parece querer aumentar ainda mais a sua influência. Os sauditas negociam com a Confederação Africana de Futebol (CAF) para um patrocínio de US$ 200 milhões à nova Superliga Africana, que deve ter a sua primeira edição em outubro, com oito clubes. O acordo de patrocínio ajudaria a garantir o apoio do continente a qualquer candidatura da Arábia Saudita a sediar uma futura Copa do Mundo.
Se a Superliga Europeia não vingou por falta de apoio, na África a ideia foi adiante. A ideia inicial de Patrice Motsepe, presidente da CAF, era um torneio com 24 clubes a partir deste ano de 2023. A ideia foi fortemente apoiada pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, e o presidente da CAF disse que a ideia promete “transformar o futebol do continente para sempre”.
Basicamente, a ideia é aumentar a visibilidade do principal torneio de clubes da África e, claro, aumentar as receitas com isso. A Superliga Africana está planejada para ter uma premiação total de US$ 100 milhões, sendo US$ 11,6 milhões apenas para o campeão. Isso significa que o campeão receberia quase US$ 8 milhões a mais do que na Champions League Africana. A nova competição ainda trará um fundo de solidariedade que dará US$ 1 milhão por ano para cada uma das 54 associações membros da CAF visando o desenvolvimento do futebol.
Enquanto a negociação pelo patrocínio milionário à Superliga Africana é negociada, a CAF anunciou que assinou um contrato de cinco anos com a Federação Saudita de Futebol para cooperação e desenvolvimento para, segundo a entidade, “promover oportunidades de crescimento para o futebol africano e da Arábia Saudita”.
Segundo o memorando assinado entre CAF e Arábia Saudita irá focar em iniciativas em relação ao desenvolvimento técnico e do futebol no clube e a nível de seleções, além do futebol de base, futebol feminino, identificação de talentos, competições, jogos amistosos e oportunidades comerciais. Ou seja: ainda não saiu o acordo de patrocínio, mas as relações entre CAF e Arábia Saudita já se tornaram próximas e, portanto, o acordo de patrocínio deve ser só uma questão de tempo.
A versão completa da Superliga Africana deve ser adiada para 2024/25, quando é esperado que o patrocínio da Arábia Saudita comece. Com isso, uma versão reduzida do torneio, com apenas oito clubes, deve ser disputada de 17 de outubro a 30 de novembro, na próxima temporada – a temporada dos torneios continentais africanos segue o padrão europeu, de agosto a junho.
“A CAF está empolgada em trabalhar junto e em parceria com a Federação Saudita de Futebol para desenvolver e crescer o futebol no nosso continente e globalmente. Há também áreas específicas por parcerias de benefício mútuo que estamos discutindo e anúncios serão feitos no devido tempo”, afirmou o presidente da CAF, Patrice Motsepe, em comunicado. Contudo, a CAF não comentou sobre o possível patrocínio da Arábia Saudita na Superliga Africana.
O papel que a Arábia Saudita assumiu nos últimos anos é de muita proximidade com a Fifa. Um fundo de investimentos do país, ligado ao governo saudita, ajudou a financiar a ideia de um Mundial de Clubes com 24 clubes, inicialmente, que cresceu para uma edição de 32 clubes, a cada quatro anos. O país também se tornou patrocinador do Mundial de Clubes, disputado em fevereiro de 2023 no Catar, e será sede do Mundial de Clubes de 2023, em dezembro deste ano. Isso sem falar que a Arábia Saudita comprou o Newcastle, em 2021.
Além disso, a Arábia Saudita era patrocinador da Copa do Mundo Feminina 2023, que será realizada em julho e agosto na Austrália e Nova Zelândia. Protestos, porém, ficaram com que o patrocínio tenha sido colocado em dúvida. Jogadoras de seleções importantes e também as federações australiana e neozelandesa são contrários ao patrocínio.
A Arábia Saudita pretende sediar uma Copa do Mundo, mas a ideia inicial era fazer uma candidatura tripla já para 2030 com a Grécia e o Egito, o que faria ter três confederações diferentes. Porém, os planos caíram por terra porque o Egito já afirmou que não pretende ser candidato e o prazo para isso acaba em junho deste ano.
Há outro problema: já há duas candidaturas muito fortes para 2030: a sul-americana, que tem Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai e tem como mote os 100 anos do Mundial no mesmo local onde aconteceu o primeiro; e também a candidatura tripla de Espanha, Portugal e Marrocos, que também poderia ter apoio da CAF e poderia criar um cenário de conflito e divisão dentro da própria confederação africana por não apoiar um membro.
Assim, os sauditas consideram que se candidatar para sediar a Copa em 2034 seria mais negócio. Só que seria outra Copa do Mundo que precisaria ser realizada no inverno do hemisfério norte, porque o calor, tal qual no Catar, tornaria impossível realizar a Copa do Mundo em junho e julho.
Os sauditas irão sediar a Copa da Ásia pela primeira vez em sua história em janeiro de 2027, um evento que será considerado um teste para ser sede também da Copa do Mundo. O bom relacionamento entre a família real saudita, chefiada por Mohammed bin Salman, com Gianni Infantino, presidente da Fifa.
Em outubro de 2022, Infantino deu declarações sobre o possível investimento da Arábia Saudita no futebol africano. “Há uma enorme vontade de investir em um projeto como isso, o que dará uma nova visibilidade ao futebol africano. O crescimento do futebol africano de clubes e seleções contribui para o crescimento do futebol mundial. A competição irá se beneficiar cada um dos países, não apenas com o pagamento de solidariedade, mas com a exposição do futebol africano”, disse Infantino, na época, em entrevista à Deutsche Welle.