O conto de fadas surreal, mas possível graças ao futebol: A Dinamarca campeã da Euro-92

Há 30 anos, os dinamarqueses construíam uma das sagas mais inacreditáveis do futebol para desfrutar de sua maior glória

| TRIVELA


*Texto publicado originalmente em junho de 2017

Por quase 80 anos, a seleção dinamarquesa chamou o Idraetsparken de ‘minha casa’. O estádio em Copenhague recebeu milhares e milhares de torcedores ao longo de tantas décadas. Alimentou a paixão pelo futebol nacional. Acompanhou a consolidação de uma seleção tradicional. Viveu o seu ápice. E, com ela, parecia desabar rumo a novos tempos. As velhas arquibancadas de concreto seriam substituídas por uma arena moderna. Já a equipe nacional também mirava o novo – que, neste caso, não tinha nada de belo ou vanguardista, ao contrário do que aconteceu durante os anos 1980. O novo momento, para a ‘Dinamáquina’, na verdade soava como um enorme retrocesso.

O último jogo da Dinamarca no Idraetsparken aconteceu em novembro de 1990. Diante de quase 40 mil torcedores, os anfitriões foram pulverizados pela visitante Iugoslávia. Mesmo bastante desfalcada, a talentosa geração triunfou por 2 a 0, com gols de Mehmed Baždarević e Robert Jarni. Por outro lado, os dinamarqueses pareciam em queda livre. Vinham de mal nas eliminatórias da Euro 1992. Depois de uma era gloriosa de participações nas grandes competições e de reconhecimento no mundo todo, os nórdicos indicavam o início de seu ostracismo. O último grito a ecoar no velho estádio olhava para o passado. “Piontek! Piontek! Piontek!'. A voz do povo apenas escancarava o descontentamento com o treinador Richard Moller Nielsen, substituto do mestre que revolucionou os conceitos no país. A Dinamite Dinamarquesa se implodia junto ao Idraetsparken.

A certeza do fim de uma era veio nas horas posteriores à derrota para os iugoslavos. Michael Laudrup, o elo entre o esquadrão que explodiu nos anos 1980 e o futuro da seleção, anunciou sua aposentadoria da equipe nacional. “Somos uma piada', falou, sem censura, aos jornalistas que o cercavam após a partida. Opinião firme que o meio-campista de 26 anos manteve ao explicar sua decisão ao jornal Politiken: “Eu jogo futebol por alegria e ambição. Mas, nos últimos anos, eu não senti essa felicidade ao jogar pela seleção. E, então, agora que as ambições também desapareceram, eu decidi parar. Há momentos nos quais é impossível jogar bem, e eu sinto isso neste momento da seleção. Eu não posso contribuir com nada de bom ou inspirador, então é melhor parar”.

Michael acabou seguido por seu irmão Brian, então com 21 anos, visto como uma grande esperança por seus compatriotas. O jovem, inclusive, foi bem menos polido em suas palavras para escancarar a insatisfação com o comandante, razão principal do afastamento. “Eu respeito Richard Moller Nielsen como pessoa, mas não como técnico. Desta forma, acho melhor parar agora. Eu não posso atuar sob seu comando e ele não gosta de mim como jogador. Não penso que minha carreira na seleção se encerra agora, mas não devo voltar enquanto ele permanecer”, apontou. Os irmãos foram seguidos por Jan Bartram, meio-campista que também ascendia na hierarquia dinamarquesa. Esperavam que o motim e a revolta nacional derrubassem o treinador.

A demolição da Dinamarca, contudo, não seguiu o roteiro prenunciado naquele outono de 1990. Dois anos depois, em setembro de 1992, os dinamarqueses inauguraram o Parken, a arena que substituía o velho Idraetsparken, já transformado em pó. Mais de 40 mil pessoas lotaram as arquibancadas, ainda em transe ao final do verão febril que se viveu no país, para assistir ao jogo contra a Alemanha. A nova casa, de fato, se prenunciava como o início de uma nova era. Agora, recebendo a seleção nacional com a taça da Eurocopa nas mãos. Os aplausos agradeciam ao time que havia derrubado os próprios alemães na decisão de três meses antes. Abafavam os gritos de “Piontek!' que se ouviram naquela mesma atmosfera durante o fim da Dinamite.

É impossível resgatar a saga da Dinamarca rumo ao êxito na Euro 1992 sem mencionar Hans Christian Andersen. O escritor mais famoso do país, que embalou os sonhos de tantas crianças com os seus contos, poderia muito bem ter emprestado a sua pena à história de Richard Moller Nielsen e seus comandados. Talvez fosse criticado por não ser verossímil o suficiente. São tantas reviravoltas, e tantos episódios inacreditáveis, e tantos momentos de clímax, que mal dá para acreditar em tudo sem ouvir os próprios protagonistas da epopeia. Entre golpes de sorte e um bocado de competência, os dinamarqueses alcançaram o topo quando ninguém apostava nisso, e quando mais pareciam fazer o caminho contrário, despencando ao fracasso. Por linhas bem tortas, Moller Nielsen foi um Andersen à sua maneira. Possibilitou o fantástico, em trajetória para ser recontada de tempos em tempos, e ainda mais nesta semana, quando completa 30 anos.

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A história daquela Dinamarca começa pelo final. Ou melhor, pelo final de outra Dinamarca. É sempre bom separar o que aconteceu na década de 1980 do rompimento que se vive em 1990. Sepp Piontek transformou a concepção do futebol no país. De raras participações internacionais e algumas medalhas olímpicas, a seleção se tornou uma máquina sob as ordens do comandante. Alcançou as semifinais da Euro 1984 e bateu nas oitavas de final da Copa de 1986. Mais do que os resultados, entretanto, valia o encanto. Os dinamarqueses possuíam uma equipe singular, de ofensividade em sua essência, de muito dinamismo, de jogadores deslumbrantes. Falhou na tentativa de conquistar um título, mas mesmo assim marcou época.

O trabalho de Piontek, de qualquer forma, dava sinais de desgaste. O time caiu na fase de grupos da Euro 1988, sem uma vitória sequer. Já nas Eliminatórias para a Copa de 1990, os dinamarqueses ficaram a um ponto da classificação. Superados por uma forte Romênia na liderança do Grupo 1, até contaram com uma segunda chance. No entanto, por estarem em uma das três chaves com quatro times, precisavam figurar entre os dois melhores segundos colocados. Terminaram atrás de Alemanha Ocidental e Inglaterra. Viram o Mundial pela televisão.

A geração de ouro envelhecia. Preben Elkjaer, Morten Olsen, Allan Simonsen, Soren Lerby e Frank Arnesen, referências da seleção, se aposentaram ao longo daquele quadriênio. O próprio Piontek preferiu dizer basta em abril de 1990. Deixou a equipe nacional após 11 anos, assumindo pouco depois a Turquia. Deixava órfã toda uma nação, por mais que os dinamarqueses acreditassem no potencial de seus novos jogadores.

A questão se concentrava em quem assumiria. E os dirigentes da federação tinham claro na mente que o sucessor de Piontek precisava ser outro estrangeiro. Alguém que, com ideias novas, continuasse expandindo a mente do futebol dinamarquês. Que mantivesse o legado. A lista de potenciais técnicos continha oito nomes. Um a um, iam recusando a proposta. Horst Wohlers foi o primeiro a aceitar. Mas, em amadorismo gritante dos cartolas, o Bayer Uerdingen não tinha sido consultado sobre a liberação de seu treinador. Preferiu manter o contrato do antigo comandante de Brian Laudrup, fechando suas portas à seleção.

Richard Moller Nielsen se encontrava apenas no rodapé da lista. Assistente de Sepp Piontek desde 1985 e treinador das seleções de base desde 1980, o dinamarquês se via como o favorito para ascender ao cargo principal. Seu nome também era citado pela imprensa como um dos mais prováveis. Mas não ganhou créditos com os mandatários da federação. Ao se reunir com eles num primeiro momento, pouco depois da saída de Piontek, o técnico ouviu em alto e bom som da boca dos cartolas que eles preferiam mesmo um estrangeiro.

Obcecado por futebol desde criança, o garoto do interior se tornou defensor do Odense. Chegou a vestir a camisa da seleção em duas oportunidades, mas uma lesão abreviou a sua carreira nos gramados quando tinha apenas 25 anos. Desde então, começou a se preparar à função de treinador, assumindo o próprio Odense em 1975, aos 38 anos. Dois anos depois, já conquistava o Campeonato Dinamarquês, antes de seguir à estrutura da seleção nacional, preparando diversos jovens que fariam parte da Dinamite Dinamarquesa de Piontek. Todavia, os temores sobre Moller Nielsen eram amplos.

O primeiro obstáculo eram os próprios dirigentes, que viam nele um caipira incapaz de oferecer novos rumos à seleção. Quando perguntado, durante o processo de escolha do treinador, por que Moller Nielsen não assumia de uma vez, o presidente da federação foi enfático: “Até a minha avó poderia ter alcançado os mesmos resultados'. E, então, também existia uma barreira entre os jogadores. Muitos já tinham trabalhado com o comandante, conhecendo bem a sua mentalidade defensiva. Temiam sua falta de experiência em um nível de exigência maior. Não respeitavam tanto aquele que viram por anos como um mero assistente. Michael Laudrup ou Elkjaer, já aposentado da seleção nacional, tentaram desencorajar a federação sobre um possível acerto com Moller Nielsen.

“Existiam alguns momentos livres de disciplina quando Richard era o responsável pelos treinamentos. Ele muitas vezes tinha que ir buscar a bola longe, enquanto os milionários felizes se alegravam em mandá-lo para lá. Não era pessoal, era parte do papel, e especialmente durante os torneios servia de válvula para a pressão que constantemente estava sobre nós”, conta Elkjaer, em entrevista ao livro Ambassadøren, de Jakob Kvist.

No entanto, a três semanas do primeiro compromisso internacional sem Piontek, o cargo permanecia vago. Restava apenas um nome na lista: Richard Moller Nielsen. O antigo assistente, enfim, acabou ganhando a sua chance, quando já planejava a vida longe da seleção. A missão que se desenhava pela frente era gigantesca, não apenas pelos resultados que precisava conquistar, mas também pela confiança que não desfrutava de várias partes.

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Richard Moller Nielsen era um homem com uma ideia em mente. Independentemente da experiência com Sepp Piontek, o treinador tinha os seus próprios conceitos. E isso significava que, a partir de então, a seleção rezaria em sua cartilha. Para ele, mais importante que o jogo bonito era vencer. E esse tipo de pensamento contrastava com o que queriam os torcedores. Com o que queriam os próprios jogadores, os experientes remanescentes da Dinamite, compartilhando outro tipo de visão sobre a equipe nacional.

As diretrizes táticas de Moller Nielsen eram bem mais rígidas. Perdia-se o dinamismo que exalava com Piontek, para se adotar um sistema de jogo bem mais pragmático. A segurança defensiva vinha antes como prioridade, o que acabava sacrificando seus talentos individuais. Era preciso manter a disciplina para cumprir o planejamento da melhor maneira. O que logo começou a desagradar os figurões da seleção, sobretudo os irmãos Laudrup. O conflito não demoraria a se desencadear. Afinal, os resultados não animavam.

A estreia de Richard Moller Nielsen aconteceu em maio de 1990. A Dinamarca serviu de sparring às seleções que se preparavam à Copa do Mundo. E, de fato, apanhou. Perdeu para Inglaterra e Alemanha Ocidental pelo placar mínimo, em apresentações na qual a falta de criatividade da antiga Dinamite foi gritante. O defensivismo impulsionou o treinador a tomar uma decisão que parecia loucura: tirar Michael Laudrup para colocar um defensor, quando já se perdia o jogo contra os Three Lions de Bobby Robson em Wembley. A primeira vitória aconteceria em Trondheim, por 2 a 1, sobre a Noruega. Partida de gala de Michael Laudrup. Na coletiva após o clássico, todavia, o chefe preferiu elogiar mais os seus operários do que sua estrela. Uma tônica que se seguiria nos meses posteriores.

“Tudo se tornou ultra-defensivo. Nós amávamos voltar para casa e defender a seleção. A gente se divertia, seja jogando ping-pong ou treinando duro. Mas o ambiente mudou de um dia para o outro. É difícil de explicar, mas a concentração ficou completamente diferente”, explica Jan Molby, meio-campista do timaço do Liverpool na época, que acabaria tendo problemas com Moller Nielsen e, em meio às lesões, perderia espaço na seleção.

A situação foi piorando pouco a pouco com o início das eliminatórias da Eurocopa. A Dinamarca teria pela frente um grupo duríssimo, contra duas seleções que estiveram na Copa de 1990, Iugoslávia e Áustria, além de Irlanda do Norte e Ilhas Faroe. Às vésperas do início da competição, os dinamarqueses venceram amistosos contra Suécia e Gales. Dois jogos pouco empolgantes da outrora sensação mundial, ambos com o placar mínimo a favor dos comandados por Richard Moller Nielsen.

A estreia na competição continental aconteceu em casa, diante da torcida no Idraetsparken. Arquibancadas cheias para uma goleada por 4 a 1 sobre as Ilhas Faroe, recém-admitidas pela Uefa. Vitória sobre o saco de pancadas que não serviu para animar, especialmente por cederem o empate durante o primeiro tempo e pouco funcionarem coletivamente contra um adversário repleto de jogadores amadores. A qualidade individual de Michael Laudrup, outra vez, valeu para construir o placar – um tanto quanto enganoso. E, outra vez, Moller Nielsen tirou respaldo de seu craque diante dos microfones, dizendo que ele deveria ter participado mais do jogo. Além disso, as próprias declarações do elenco na imprensa aumentavam a tensão. As perguntas dos jornalistas atiçavam as críticas, transmitindo uma impressão de descontrole. O próprio Michael Laudrup questionou o procedimento nos treinamentos, com brincadeiras bem diferentes das atividades intensivas que desenvolvia sob as ordens de Johan Cruyff no Barcelona.

Um mês depois da goleada inútil, a cobrança sobre o técnico aumentaria com o empate por 1 a 1 com a Irlanda do Norte, em Belfast. Jan Bartram anotou o gol do time, de pênalti, quando as coisas seguiam por um bom caminho no primeiro tempo. Contudo, o passar dos minutos tornou o duelo cada vez mais físico. Os anfitriões empataram no início da segunda etapa. E, tentando dar mais força ao seu time, Moller Nielsen substituiu justamente os irmãos Laudrup. Quando todos esperavam que os dinamarqueses partissem para cima em busca de um ponto que seria fundamental, a postura do treinador foi outra. Gerou mais quebras de hierarquia e pedidos públicos de ex-jogadores, como Frank Arnesen, pela mudança no comando – ainda que os demais técnicos do país apoiassem Moller Nielsen. O episódio contra os norte-irlandeses seria fundamental para o contexto do fatídico jogo contra a Iugoslávia, em novembro de 1990, no Idraetsparken.

Moller Nielsen sabia das altas expectativas para aquele confronto, especialmente para proporcionar uma despedida digna à velha casa. Durante a concentração, conversou com Michael Laudrup e Molby para discutir a formação do time. Tentou proteger a defesa com jogadores pesados, além de rechear o meio-campo. Não deu certo. Nem a ausência de Dragan Stojkovic, Dejan Savicevic e Robert Prosinecki ou a lesão de Darko Pancev logo nos primeiros minutos atrapalhou os iugoslavos. A apatia dos dinamarqueses era evidente. Boa parte dos jogadores estava distante do técnico, que não apresentava uma solução plausível. Segundo relato de Jan Bartram em sua biografia, durante o intervalo, enquanto o vestiário estava completamente silencioso pela atuação apagada, era possível ouvir o treinador em outra sala se queixando da impotência para mudar o placar. “Era o leão em uma jaula', descreve. E o revés se consumou com o triunfo merecido dos visitantes por 2 a 0, com dois tentos na etapa complementar.

Após a partida, o tom nos discursos era um só. A torcida gritava por Piontek. Alguns dos principais jogadores não escondiam a insatisfação com as rígidas escolhas táticas. A imprensa reforçava o tom exageradamente duro contra o comandante. O sangue de Moller Nielsen escorria na página dos tabloides. O próprio Moller Nielsen indicava que a decisão de demiti-lo estava nas mãos da federação, por mais que não se entregasse. Mas, no fim das contas, ele acabou respaldado pelos cartolas e por outros líderes do elenco.

A despeito do motim protagonizado pelos Laudrup, os dirigentes mantiveram-se ao lado do treinador. Ele seguiria em frente no cargo. Já os demais jogadores, que até acenaram com a rebelião nos bastidores, preferiram não colocar em xeque sua sequência na equipe nacional. A atitude mais contundente veio do meio-campista Erik Rasmussen, um dos mais experientes do elenco, considerado também uma referência intelectual. Ele escreveu um artigo na imprensa local, falando sobre o momento turbulento da seleção. Reclamou dos ataques pessoais e da ridicularização gratuita ao técnico. Além disso, pediu desculpas pela atuação contra os iugoslavos, embora não negasse outros problemas. Defesa que serviu de escudo ao comandante e fez outros jogadores baixarem o tom, inclusive Michael Laudrup.

Sem as estrelas, a Dinamarca seguiu em frente. Os resultados nos amistosos não eram bons. A equipe chegou a empatar com Malásia e Bulgária, além de perder para a Itália e ser goleada pela Suécia até meados de 1991. Em compensação, a campanha nas eliminatórias da Euro ganharia uma guinada. A mentalidade defensiva não proporcionaria exibições brilhantes, mas ajudou os nórdicos a conquistarem resultados consistentes. O primeiro viria em Belgrado, na visita à Iugoslávia seis meses depois. Em dois ataques velozes, os visitantes arrancariam o triunfo por 2 a 1 no Marakana. Oportunista, Bent Christensen seria o autor de ambos os gols. Triunfo importante em diferentes sentidos: pela tabela, pelos novos conflitos e pela pressão.

Na imprensa, Morten Olsen disparava em uma enquete sobre quem deveria ser o técnico da seleção. O ex-defensor, cérebro da Dinamite de Piontek, levou o Brondby às semifinais da Copa da Uefa, mas negava os rumores e pedia respeito à experiência de Moller Nielsen. Enquanto isso, o técnico causou um enorme imbróglio na seleção ao preterir Jan Heintze pelo improvisado Jan Bartram – que, logo depois, renunciaria à seleção.

Para a infelicidade do país, a mudança de postura da Dinamarca, bem mais combativa e menos dependente de suas individualidades, não rendeu a classificação à Eurocopa. Encabeçados por Christensen e Flemming Povlsen, os dinamarqueses venceram todos os seus jogos restantes. Bateram a Áustria duas vezes, além de derrotarem mais uma vez as Ilhas Faroe. O último compromisso aconteceu em novembro de 1991. A seleção precisou enfrentar mais controvérsias, diante de duras declarações de Peter Schmeichel em um livro, diminuindo Moller Nielsen em comparações com Piontek e Morten Olsen. O que parecia o fim da linha para o goleiro, porém, terminou por expor sua grandeza de espírito: ele deu uma coletiva de imprensa na qual pediu “desculpas incondicionais', admitiu seu arrependimento e apontou que as declarações não eram aceitáveis.

Schmeichel permaneceu no gol para o reencontro com a Irlanda do Norte, fechando a campanha. E os dinamarqueses fizeram uma boa partida, vencendo por 2 a 1. Entretanto, a Iugoslávia teve um desempenho ainda melhor. Assegurou a vaga no torneio continental com um ponto a mais, embora o saldo de gols proporcionado por seu ataque avassalador concedesse vantagem em caso de igualdade. Não havia como questionar a superioridade dos oponentes, até por aquilo que acontecera no adeus do Idraetsparken. Pior, Moller Nielsen permanecia malhado como Judas pela imprensa. Um empate com a Islândia em setembro, inclusive, promoveu novo escândalo: rumores apontavam que dirigentes da própria federação, insatisfeitos com o trabalho, mas impotentes para a demissão, pagavam pela publicação dos artigos. A informação nunca foi provada. E o treinador seguiu em frente, com tantos obstáculos, agora preparando a seleção para o ciclo rumo à Copa do Mundo de 1994.

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Perseverança costuma ser uma característica fundamental a qualquer técnico. Uma das principais virtudes de Richard Moller Nielsen. Apesar das muitas críticas que sofria por sua irredutibilidade e pela dificuldade no trato com os jogadores, o trabalho incansável sempre foi uma de suas virtudes. Analisava as partidas, debruçava-se sobre cada lance, pensava jogadas e maneiras de vencer. Nem sempre dava certo, da mesma maneira como nem sempre conseguia que os atletas assimilassem o que imaginava em suas anotações. Independentemente disso, continuava se esforçando.

E, diante das notícias sobre os conflitos nos Bálcãs, Moller Nielsen continuou estudando o seu time. Sua preparação pessoal durante os primeiros meses de 1992 foi intensa. Neste intervalo, as tensões se rompiam na Iugoslávia, respingando também sobre o esporte. As declarações de independência começaram a ecoar, ao mesmo tempo em que o sangue era derramado. Os próprios clubes iugoslavos acabaram proibidos de atuar em seu território, por conta dos riscos. Assim, discutia-se qual o futuro da seleção brilhante que tinha se classificado à Eurocopa. Em janeiro, o treinador afirmou que sua equipe estava preparada para qualquer chamado emergencial da Uefa, embora não desejasse isso, expressando sua lástima com a divisão da Iugoslávia e a esperança de que a paz fosse restaurada logo.

Em abril de 1992, a Dinamarca disputou dois amistosos. Jogos importantes para Moller Nielsen. Nem tanto pelos resultados, com vitória sobre a Noruega e derrota para a Turquia – que, de novo, fazia ressurgir o fantasma de Sepp Piontek. Apesar disso, o treinador dinamarquês tinha um problema a menos para a sequência de seu trabalho. Ou melhor, voltou a ter uma solução: por intermédio de Tommy Troelsen, antigo ídolo da seleção, o técnico conversou com Brian Laudrup e reconquistou a confiança do jovem. O atacante resolveu deixar as insatisfações de lado para voltar a defender a seleção. O mesmo não aconteceria, por exemplo, com Michael Laudrup. O cerebral meio-campista permanecia incontornável, até por desfrutar de um sucesso ímpar pelo Barcelona, brilhando na campanha que culminaria no título da Copa dos Campeões em 20 de maio.

“Tommy é um homem razoável, e ele me convenceu que era tolo desperdiçar muitos dos meus melhores anos por causa de teimosia. Eu realmente gostaria de voltar à seleção, porque senti falta disso. O pior seria chegar ao final da carreira e perceber que só tinha jogado poucas partidas pela equipe nacional. Peço desculpas por ter agido impulsivamente e com a emoção. Eu senti que Richard só havia me colocado no time por causa da imprensa e do clamor público. Neste período de afastamento, ficamos mais sábios e maduros. Richard era, por exemplo, menos sensível para aceitar as críticas”, apontou Brian Laudrup.

No entanto, nem mesmo o retorno do jovem craque apaziguou a ira dos críticos. O clássico contra a Noruega aconteceu na cidade de Aarhus. Na noite anterior ao jogo, um vândalo invadiu o campo e pintou no gramado, em letras garrafais: ‘Fuck Ricardo’, em referência ao apelido de Richard Moller Nielsen. Os jardineiros tentaram dar um jeito, mas o xingamento ainda ficou visível na transmissão pela TV. Representava bem a falta de moral. Por mais que os resultados melhorassem, a qualidade do futebol não agradava.

Enquanto isso, as semanas se passavam e a situação na Iugoslávia piorava, mas a participação da seleção na Euro parecia ratificada. Os jogadores, inclusive, chegaram a viajar até a Suécia. Estavam concentrados quando receberam a informação frustrante: apesar dos sonho de transmitir uma mensagem diferente ao mundo, estariam impedidos de disputar o torneio. Os crimes contra a humanidade e a violência estarrecedora levaram a ONU a aplicar sanções internacionais aos iugoslavos. Inclusive, recomendando o banimento de seus times em competições esportivas. Assim, 13 dias antes da estreia, a Uefa optou por seguir a ordem, evitando atritos com a comunidade internacional. Os eslavos precisariam voltar para casa – uma casa, naquele momento, destroçada pelas bombas.

“Foi o pior dia da minha vida, e o mais difícil é que eu não sabia explicar aos companheiros o porquê. Isso é esporte, e não política. As duas coisas não devem se misturar. Coisas terríveis aconteciam no meu país e eu estava profundamente envergonhado quanto a isso. Mas, quando eu olhei para esses jogadores, eu notei a maneira como as suas faces se abalaram diante da decisão. Eu queria saber por que a Uefa deixou a situação chegar tão longe. Se eles quisessem nos tirar da Euro, por que não fizeram antes? Nós treinamos, já estávamos hospedados na Suécia e, então, precisávamos voltar. Tínhamos que voltar à realidade. E, ainda hoje, ninguém me falou o porquê”, relata Dragan Stojkovic, craque e capitão da Iugoslávia, em entrevista à revista The Blizzard.

Assim, a vaga na Eurocopa caía bem no colo da Dinamarca. A seleção achincalhada por torcedores, jornalistas e até jogadores ganhava uma segunda chance. Mas não tinha muito tempo para botar ordem na casa.

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Ao saber da decisão da Uefa, Richard Moller Nielsen teve poucas horas para definir seu elenco de 20 atletas – todos eles, em contato com o técnico durante as semanas de indecisão. Alguns já estavam em férias, outros permaneciam com seus times para a reta final da temporada. O próprio Campeonato Dinamarquês seguia em curso, sem programar a pausa no calendário que contemplasse a Eurocopa. O treinador ligou para chamar, jogador por jogador, ao serviço. Precisavam se juntar ao curto período de treinamentos, que incluía também um amistoso previamente marcado contra a Comunidade dos Estados Independentes – seleção herdeira da União Soviética que ficou com a vaga na Euro 1992 após a dissolução do país.

Em meio às chamadas, a seleção dinamarquesa tentou uma última aproximação com Michael Laudrup. Nada feito. “Moller Nielsen tem um estilo diferente, mais defensivo. Durante as Eliminatórias, decidi que o Barcelona era mais importante para mim. Cruyff quer que eu seja um líder. Já o treinador da seleção prefere que eu seja defensivo. Não posso ser os dois. Então, me concentrei no Barcelona e conquistei muita coisa. Quando a Dinamarca foi convidada para a Eurocopa, eles me perguntaram se eu gostaria de voltar. Eu estive fora por dois anos. Não seria justo com esses jogadores que atuaram durante os dois últimos anos”, declarou ao jornal The Times, após o torneio.

A base de jogadores, de qualquer forma, não enfrentaria grandes problemas para se entrosar. Dezenove deles já tinham trabalhado com Moller Nielsen nas seleções de base – inclusive, o apoio a esses atletas em ascensão foi fundamental para a sua sustentação, a despeito das desconfianças dos mais tarimbados. Além disso, havia uma espinha dorsal muito bem definida nos clubes. O Brondby de Morten Olsen (demitido em maio) era a principal referência. De lá vinham quatro convocados, três deles titulares, enquanto outros tantos haviam integrado o elenco nas temporadas anteriores, antes de se transferirem – como Brian Laudrup, Lars Olsen e Peter Schmeichel. Enquanto isso, o Lyngby também fornecia peças complementares interessantes ao grupo. Ao todo, 13 jogadores atuavam na liga doméstica.

Uma preocupação pertinente se concentrava sobre o momento vivido por parte dos protagonistas. Muitos daqueles atuando no exterior vinham sem a sequência ideal. Brian Laudrup e Flemming Povlsen enfrentaram lesões sérias nos meses anteriores, Henrik Andersen se firmava no Colônia, Kent Nielsen teve problemas no Aston Villa. O próprio capitão, Lars Olsen, não desfrutava de tanto moral, criticado pela falta de liderança e pelas más exibições com a seleção. Já no cenário doméstico, a preocupação era outra. Encarando com problemas financeiros, o Brondby fez uma campanha de meio de tabela. Já Lyngby e B1903 permaneciam na corrida pelo título. A última rodada, com um confronto direto, aconteceria justamente dois dias antes da estreia na Euro.

Moller Nielsen precisou lidar com um período de preparação truncado. Alguns treinamentos não contaram com os jogadores da liga local. Além disso, os atletas do exterior voltaram em ritmo de férias, sem a forma física ideal e alguns até acima do peso. Seria necessário correr contra o tempo, mesmo que ele fosse tão escasso. Diante de todos os percalços, as expectativas eram de uma campanha vexatória dos dinamarqueses. Se conquistassem ao menos um ponto, já era um feito.

“Foi um pouco confuso. Durante as primeiras sessões de treinamento, a equipe não estava em forma. Havia uma grande diferença entre os que tinham acabado de encerrar a temporada e os que já estavam em férias”, avaliou John Sivebaek, em entrevista à revista francesa SoFoot. “Nós só queríamos mostrar que não éramos um bando de férias na Suécia”.

Apesar de todos os temores, o amistoso contra a Comunidade dos Estados Independentes deixou uma impressão razoável. Os dinamarqueses saíram em vantagem e terminaram o primeiro tempo vencendo, apesar de cederem o empate na etapa complementar. Para quem não passou por uma preparação tão intensiva quanto a maioria dos adversários, a maneira como encararam os ex-soviéticos foi digna. Seguia sem ser um time criativo, mas já era tarde para esperar qualquer transformação neste sentido.

Em contrapartida a todos os problemas, havia um grande trunfo aos dinamarqueses: a pressão sobre o time era praticamente inexistente. Como bem resume o meio-campista Kim Vilfort, em entrevista posterior à BBC: “Não tínhamos chances de fracassar, porque não existiam expectativas. Se nós perdêssemos os três jogos por 5 a 0, não teria importado”. Se o time da Dinamarca não encantava e sequer pôde se focar nos treinamentos antes da estreia, nem mesmo as costumeiras críticas da imprensa local tinham tanto efeito. O único incômodo neste sentido era o peso de substituir os iugoslavos e fazer jus à ocasião, diante de toda a situação delicada. “Parecia que tínhamos tomado algo de jogadores que atuaram bem e mereceram estar no torneio. Havia um senso de diversão, assim como a consternação de que a nossa presença não se dava por uma razão divertida”, complementa Vilfort.

Além disso, os dinamarqueses escaparam da estafante rotina prévia de um torneio internacional. Não tiveram tempo para se preocupar se seriam convocados ou não, para lidar com todas as jogadas de marketing, para encarar todo o interesse da imprensa. O que, no fim das contas, muito apeteceu Nielsen Moller: “Eu odeio ser amigo da mídia, eu odeio ser entrevistado constantemente. Eu odeio a maneira como as vidas dos jogadores são invadidas por pessoas que se autodenominam jornalistas. O convite tardio me deu uma razão para recusar tudo isso, para dizer aos jogadores também dizerem não. Eu poderia falar: ei, dê um tempo, temos apenas 10 dias, não podemos falar com você, temos que treinar”, rememora.

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O grupo da Dinamarca não dava muitas margens à esperança. Pegariam Inglaterra, Suécia e França. Moller Nielsen continuava com dificuldades para exercer a sua voz de comando entre os jogadores, da mesma maneira que suas ideias nem sempre eram compreendidas. Além disso, o jeito sarcástico de falar nas entrevistas coletivas, por vezes, causava ruídos. Tinha apenas alguns dias para consertar os seus próprios problemas e provar, de uma vez por todas, as suas qualidades como técnico.

A Inglaterra, primeira adversária na competição, carregava os seus entraves. Graham Taylor tinha diversos desfalques, incluindo a ausência de cinco jogadores importantes por lesão, especialmente Paul Gascoigne. Alguns dos destaques na campanha até as semifinais da Copa de 1990 haviam envelhecido, perdendo espaço ou sem apresentar a sua melhor forma. Em contrapartida, o destaques da nova geração não tinham desabrochado de maneira suficiente. Mas, entre as lacunas dos Three Lions e o caos completo atravessado pela Dinamarca, o favorito da noite era óbvio. Algo que não se cumpriu.

Por aquilo que se prometia, a Dinamarca deu mais trabalho que o esperado. Não que o time funcionasse tão bem, mas as infiltrações aproveitavam as brechas da débil defesa da Inglaterra. Na melhor oportunidade, durante o segundo tempo, John ‘Faxe’ Jensen carimbou a trave. De qualquer maneira, os Three Lions tiveram chances de vitória bem mais concretas. Desperdiçaram um caminhão de gols, especialmente nas bolas alçadas à área. Gary Lineker não era mais o artilheiro de outrora. Os dinamarqueses se desdobraram para afastar a bola e, com Peter Schmeichel soberano na área, conseguiram segurar o empate por 0 a 0.

O ponto conquistado já valia demais aos convidados. E o compromisso seguinte seria um desafio gigantesco, contra a anfitriã Suécia. Os rivais também tinham empatado na estreia, o que aumentava a pressão sobre eles. Diante da ocasião, os dinamarqueses sentiram a cobrança. O duelo no mítico Estádio Rasunda foi bem mais aberto que a estreia diante dos ingleses. A Dinamarca conseguia se aproximar da área com mais inventividade, mas tinha sérios problemas no passe final e na conclusão das jogadas. Na melhor oportunidade, Thomas Ravelli buscou no cantinho. Do outro lado, os suecos incomodavam bastante com a velocidade de Martin Dahlin e Thomas Brolin. Aos 13 do segundo tempo, após uma bola que a zaga não conseguiu afastar, o atacante do Parma determinou o triunfo dos anfitriões por 1 a 0.

A situação da Dinamarca era dificílima. Precisava vencer a temível França, que havia empatado os seus dois primeiros jogos, apesar das oito vitórias nos oito jogos das eliminatórias. Além disso, também necessitava ao menos de um tropeço da Inglaterra diante dos suecos. Como se não bastasse, os dinamarqueses precisariam lidar com um desfalque sentido em seu meio-campo. Titular absoluto nos dois primeiros jogos, Kim Vilfort recebeu uma ligação de casa. Sua filha de sete anos, Line, enfrentando uma leucemia, havia sofrido uma recaída e seu estado de saúde era crítico. Pediu a liberação para que pudesse acompanhá-la no hospital. Os jogadores tinham um motivo claro para buscar o resultado.

Na véspera do jogo, Moller Nielsen preparou uma atividade que estreitou os laços com os atletas. Todos foram juntos para um mini-golfe. Diversão que relaxou ainda mais o elenco. “Fomos ao campeonato sem nada a perder, estávamos relaxados sem a pressão da mídia e jogamos bem na estreia contra a Inglaterra por causa disso. Nós ficamos com medo contra a Suécia, entretanto, e eu senti que estávamos chegando a um momento no qual poderíamos conquistar grandes coisas. Então, pela primeira vez na minha vida como técnico, eu decidi tentar algo diferente”, relembrou o treinador.

Visão complementada por Brian Laudrup: “O mini-golfe foi uma ótima sacada do técnico. Nós estávamos no ônibus, entediados, e um dos rapazes viu a placa do mini-golfe. Nós não acreditamos quando Nielsen permitiu. Nós relaxamos, brincamos e voltamos para o ônibus. Ficamos muito tranquilos com isso, esquecemos totalmente a partida contra a França”. Os franceses, por outro lado, lidavam com um racha em seu elenco. Existiam conflitos entre os jogadores do Olympique de Marseille, base do time, e os demais. Apesar disso, a qualidade era inegável. Jean-Pierre Papin, em especial, estava voando baixo. Compunha dupla de ataque talentosíssima com Eric Cantona.

A Dinamarca fez um bom primeiro tempo em Malmö, apoiada por centenas de torcedores nas arquibancadas – em cidade de fácil acesso, a apenas 40 quilômetros de Copenhague. Merecidamente, os “donos da casa' abriram o placar aos oito minutos. Flemming Povlsen ajeitou uma bola de cabeça e Henrik Larsen apareceu sozinho para fuzilar. Entretanto, os Bleus cresceram no segundo tempo. Pressionando, conseguiram descolar o empate aos 15 minutos. Passe de calcanhar genial de Cantona, para que Papin mandasse a bola no canto de Schmeichel, em tiro cruzado. O momento indicava muito mais uma virada dos franceses.

Foi quando Moller Nielsen tomou uma atitude ousada, ao sacar Brian Laudrup do time. O treinador avaliou que o craque não estava se empenhando suficientemente e buscou dar mais presença física à linha de frente, com o esforçado Lars Elstrup. O atacante oportunista precisou de 10 minutos em campo para fazer valer a aposta. Após nova jogada de Flemming Povlsen pela direita, o substituto concluiu às redes. Determinou a classificação inesperada da Dinamarca, com o triunfo por 2 a 1 sobre os Bleus, ajudada também pela vitória da Suécia sobre a Inglaterra no outro jogo da chave.

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O desafio nas semifinais seria gigantesco. A Holanda terminou na liderança do Grupo B, após passar por cima da Alemanha na rodada final. Os então campeões miravam o bicampeonato. Já os dinamarqueses poderiam assumir de vez a postura de franco-atiradores, embora não fossem deixar de lutar pelo título que estava tão perto. Ganhariam ainda um reforço tremendo para os ânimos, com o retorno de Kim Vilfort. A filha do meio-campista melhorara e pedira que o pai voltasse à competição, em busca do sonho irreal que se aproximava de todo no país.

Os métodos pouco ortodoxos de Nielsen Moller seguiram em frente. Primeiro, em outra viagem entediante de ônibus, permitiu que seus atletas descessem em uma lanchonete. Fartaram-se de hambúrgueres, refrigerantes e outras comidas que não fazem exatamente parte da dieta de atletas. Também permitia que tomassem uma cerveja ou outra na concentração, mesmo antes dos treinamentos. Já na viagem para Gotemburgo, onde aconteceria o confronto decisivo, os dinamarqueses acabaram hospedados em um hotel suntuoso. Tinham todas as mordomias a seu favor. Inclusive, as atividades recreativas eram tão comuns quanto os treinamentos com bola. O comandante queria guardar a energia de todos para o jogo. Assim aconteceria.

“O hotel era inacreditável. Nós nos encontramos no primeiro dia e conversamos sobre como era estranho estar lá. Antes que a gente se desse conta de tudo, fomos jogando uma partida depois da outra, e então alcançamos as semifinais. A coisa toda foi como um sonho estranho, e nós nunca realmente acordamos. Era sempre a mesma frase: ‘Você consegue acreditar nisso?’. Muitos no elenco se sentiram realmente mal pelos iugoslavos e esse sentimento nunca se dispersou ao longo do torneio. Nós realmente sentimos que, se estávamos lá, teríamos que jogar nosso máximo”, relata Brian Laudrup.

E o craque daquele time, enfim, protagonizaria a partida de sua vida contra a Holanda. A Oranje de Rinus Michels vinha com o rei na barriga, aludindo a uma pretensa superioridade que não conseguiu se provar em campo. Negando as suas próprias convicções, Moller Nielsen pediu a Brian Laudrup para que jogasse mais solto, flutuando entre as linhas, buscando o jogo no meio-campo. Inclusive, fez adaptações táticas na equipe, abrindo mão do 5-3-2 para adotar o 4-4-2 com linhas mais rígidas. Pois o camisa 11 teve uma atuação impecável, infernizando a defesa holandesa. Não à toa, o primeiro gol nasceu de seus pés, ao arrancar à linha de fundo e cruzar para Henrik Larsen completar de cabeça.

Tentando pressionar, a Holanda arrancou o empate aos 23 do primeiro tempo, em chute de Dennis Bergkamp que Schmeichel aceitou. Contudo, a Dinamarca voltaria a ficar em vantagem dez minutos depois. Após tentativa de Laudrup, a bola sobrou limpa para Larsen chutar no canto e marcar mais uma vez. De fato, os dinamarqueses jogavam melhor. Tinham mais garra e mais mobilidade, diante de uma Holanda um tanto quanto confiante no serviço que demorava a acontecer. Eram verticais, aproveitando os lançamentos de Schmeichel como jogada recorrente. O renome da Oranje não preponderou na maior parte do tempo.

Somente nos minutos finais é que a pressão se intensificou. E a Dinamarca precisou se desdobrar. Primeiro, Laudrup sentiu a coxa e pediu para sair. O lateral esquerdo Henrik Andersen, por sua vez, fazia uma exibição gigantesca. Após tomar o segundo amarelo, que o tiraria da final, o defensor resolveu dar o seu máximo, sem se preocupar com o cansaço. Acabou sofrendo um deslocamento no joelho, saindo de campo aos 25 da segunda etapa, encaminhado diretamente no hospital. Vários eram os dinamarqueses baleados. Lateral direito, John Sivebaek precisou ser deslocado ao ataque, também por se contundir quando Moller Nielsen já tinha realizado as duas substituições disponíveis. Por fim, a luta dos nórdicos acabou penalizada aos 41, em sobra de bola que Frank Rijkaard completou para decretar o empate por 2 a 2.

Mesmo que a Dinamarca jogasse teoricamente com 10, a Holanda não aproveitou a vantagem na prorrogação, sem demonstrar o ímpeto que se esperava de seu esquadrão. A vaga na decisão seria definida nos pênaltis. Ronaldo Koeman e Henrik Larsen converteram as primeiras cobranças. Na sequência, Schmeichel se redimiu e foi buscar o chute de Marco Van Basten. Batida sem tanta força, mas no canto. Vantagem que reforçaria a confiança de seus companheiros rumo a classificação. Bergkamp, Elstrup, Rijkaard, Vilfort, Witschge: um a um, os jogadores de ambos os times converteram. Até o chute decisivo do polivalente Kim Christofte. O veterano teve nervos de aço, ao desconcentrar Hans van Breukelen, ajeitando a bola duas vezes. Caminhou com calma e só tirou do goleiro adversário. Bola nas redes, a Dinamarca chegava à final contra todas as apostas.

Neste momento, o país inteiro já estava em êxtase. E a maior prova disso vinha do bar de um hotel em Nova York, onde Michael Laudrup comemorou enlouquecidamente. “Eu queria que Brian se saísse bem, mas não era só isso. Eu sou dinamarquês, pelo amor de Deus! Eu sou fanático pela seleção e, por mais que não me desse bem com Moller Nielsen, eu queria que meu país vencesse. Eu tentei me enganar e ficar longe das partidas. Mas mesmo viajando pelo Caribe com minha esposa, estava perguntando às pessoas sobre o resultado. Obviamente, ninguém em Santa Lúcia se importava com futebol. Então, na semifinal eu estava em Nova York. Passei a noite toda no telefone com o meu pai. A cada cinco minutos, ligava perguntando o resultado. Ninguém no bar se importava, sequer sabia do que estava falando. E quando aconteceram os pênaltis, eu liguei novamente para o meu pai e disse: ‘Ouça aqui, é melhor que você continue na linha durante os próximos minutos'”, contou à The Blizzard.

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A Dinamarca garantiu presença na decisão já sabendo quem enfrentaria. Teria pela frente a Alemanha, então campeã do mundo. E a animosidade com os vizinhos estava um tanto quanto aflorada. No início de junho, os dinamarqueses votaram contra a entrada do país no projeto de União Europeia encabeçado pelos alemães. O referendo teve estreita margem de vitória ao ‘não’, com menos de 50 mil eleitores fazendo a diferença à refutação. A população mudaria de ideia e seria favorável à integração menos de um ano depois. De qualquer maneira, a final da Euro era a chance de se impor sobre os desejos dos alemães pela segunda vez em menos de um mês.

Aos jogadores, certamente, a discussão econômica não interessava tanto naquele momento. Eles já tinham razões suficientes para se motivar. Antes da semifinal, as esposas viajaram à Suécia. Para a decisão em Gotemburgo, todavia, existia um problema de acomodação, com a rede hoteleira sobrecarregada para aceitar as hóspedes ilustres. A solução encontrada por Richard Moller Nielsen? Permitir que elas ficassem no mesmo hotel – mais especificamente, nos mesmos quartos de seus maridos. A liberdade (sexual, inclusive) seguiu imperando na concentração dos nórdicos.

Com seus jogadores livres da pressão e sem grandes preocupações, Moller Nielsen pediu apenas que fizessem em campo o que sabiam de cor. Embora o desgaste físico de muitos atletas fosse evidente, a única ausência entre os titulares foi mesmo a de Henrik Andersen, que assistiu a final diretamente do hospital. Brian Laudrup, Lars Olsen e John Sivebaek estavam no 11 inicial, a despeito das contusões que sentiram diante da Holanda. Seria necessária uma exibição fantástica da Alemanha para superar a vontade de seus desafiantes. O que não aconteceu.

Favoritíssimo, o Nationalelf começou inegavelmente melhor no jogo. Encontrava espaços na defesa dinamarquesa e forçava as saídas providenciais de Schmeichel. Mas não demorou para que os nórdicos começassem a equilibrar a situação. A mobilidade de Brian Laudrup, outra vez, funcionava bastante. O camisa 11 recuava e abria espaços para as incursões de ambos os meio-campistas centrais, Kim Vilfort e John Jensen, companheiros no Brondby. Aos 18 minutos, caberia ao ‘Faxe’ abrir a contagem.

Vilfort também teve participação decisiva no lance. Um carrinho na lateral do ataque recuperou a bola para Flemming Povlsen. O atacante chegou ao limite da área e rolou para Jensen, livre de marcação. Justamente ele, autor de apenas um gol pela seleção até então e famoso por isolar muitos de seus chutes. O camisa 7 estava acostumado a ouvir o conselho do treinador: “Olhe apenas para os seus cadarços, e nada mais, concentre-se no chute'. Exatamente o que fez, de uma maneira que nunca mais replicaria. Pegou a bola na veia. A bomba indefensável morreu nas redes, longe do alcance de Bodo Illgner.

Com a vantagem no placar, a Dinamarca tentava administrar um pouco mais a bola e gastar o tempo, se resguardando. Fazia um jogo inteligente, eficiente como em boa parte da campanha. As maiores preocupações vinham com as arrancadas de Jürgen Klinsmann. Então, o craque germânico fez aparecer o melhor homem em campo naquela final: Peter Schmeichel. Naquele dia, o dinamarquês se ratificou como um dos melhores goleiros do mundo. Teve uma atuação monstruosa sob as traves. Antes do intervalo, operou duas grandes defesas contra o camisa 18, uma delas buscando a bola rasteira com a ponta dos dedos.

Na segunda etapa, a Alemanha intensificou a pressão. Os dois laterais do 5-3-2 de Berti Vogts começaram a avançar mais. A Dinamarca se defendia com nove homens, deixando apenas Brian Laudrup um pouco mais isolado no ataque. Mesmo assim, sofria com as ameaças do Nationalelf. Por sorte, contavam com um gigante chamado Peter Schmeichel. O milagre que ele operou na cabeçada de Klinsmann, desviando o arremate à queima-roupa, está entre os mais fabulosos da história da competição. E quando não pôde fazer nada, contou com Kent Nielsen para tirar uma bola quase em cima da linha.

“Se a Alemanha marcasse, não havia maneira para nós vencermos aquele jogo. Cada esforço que fizemos para defender era o resto de energia em nossas pernas. A nossa falta de preparação realmente começou a se mostrar”, apontou o capitão Lars Olsen. Noção compartilhada por Brian Laudrup: “A gente não sobreviveria à prorrogação. E, por Deus, a cada vez que os alemães iam ao ataque, parecia que eles iam marcar”.

O fio de esperança estava em um contra-ataque que matasse o jogo. E ele surgiu aos 33 do segundo tempo. O herói seria Kim Vilfort, aquele que voltara à Suécia para satisfazer a vontade da filha que torcia por ele, com leucemia, na cama de um hospital. O meio-campista dominou uma bola rebatida, tirou dois marcadores com um só corte e bateu sem tanta força, mas o suficiente para finalizar rente à trave de Illgner. A comemoração representa bem o espírito dos dinamarqueses, todos saltando sobre o seu companheiro. Ensandecidos. Leves. Campeões. A Alemanha não conseguiria reagir aos 2 a 0 no placar.

“Nós tínhamos um espírito coletivo fantástico. O time queria vencer e isso é ótimo quando você está no nível mais alto. Quando nós estávamos sob pressão contra a Alemanha, esse espírito nos ajudou. Não tínhamos os melhores jogadores, mas formávamos o melhor time”, rememora Vilfort, à BBC. O gol derradeiro seria uma das últimas alegrias que Vilfort ofereceria à pequena Line. Semanas depois, a menina de sete anos faleceu, em consequência da leucemia. Pai e filha puderam aproveitar a felicidade juntos.

A partir do apito final, o que se viveu foi o mais puro êxtase relacionado ao futebol. Pelos jogadores que celebravam em campo. Pelos torcedores que invadiram as arquibancadas do Estádio Ullevi. Pelos milhares que ficaram na Dinamarca e promoveram um verdadeiro carnaval fora de época – até em festival de rock, proporcionando ao Nirvana uma experiência única. Richard Moller Nielsen, que em tantos momentos correu riscos e teve problemas com seus jogadores, foi exaltado demais pelos agradecidos campeões. Já no retorno da seleção para casa, uma onda vermelha tomou as ruas de Copenhague. Cenas que não devem se repetir tão cedo no país, comemorando uma façanha sem tamanho. Festa para a qual sequer tinham sido convidados.

“Eu digo a você agora. Se tudo desse certo, eles diriam que eu era um gênio. ‘Como ele fez isso? Esse cara deve saber algo especial’. Mas escute atenciosamente, e se lembre disso. Se dá errado, eles diriam que eu era um amador! ‘Como ele pôde deixar que jogassem mini-golfe ao invés de treinar? Como permitiu que devorassem hambúrgueres?’. Eu sei o que eu sou, fui sortudo e isso é o futebol. Eles vão dizer que é ciência, mas não. É sobre sorte, meu amigos, é tudo sobre sorte”, comentou Moller Nielsen, anos depois. Confissão um tanto quanto surpreendente, de um homem que ainda assim continuou obcecado por seu trabalho. O treinador, falecido em 2014, também sabia que aquela epopeia só era possível pelo esforço de tantos.

O reconhecimento a Nielsen nunca foi completo. As críticas na imprensa diminuíram, Michael Laudrup voltou ao time em agosto de 1993, a Dinamarca conquistaria ainda a Copa Rei Fahd (predecessora da Copa das Confederações) em 1995. Todavia, o treinador não conseguiria classificar o país à Copa do Mundo de 1994 e sucumbiria na fase de grupos da Euro 1996. Então, aconteceu a demissão prenunciada por seis anos. Se o estilo de jogo eficiente não era de agrado a todos, mereceu o respeito por ter oferecido aquela alegria incomparável em 1992. O legado do comandante transcendeu, e muito, o futebol.

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Os 15 que entraram em campo durante a campanha

Peter Schmeichel (Goleiro, 28 anos, Manchester United) – O principal nome daquela seleção. Passou por equipes menores até estourar no Brondby, transferindo-se ao Manchester United em 1991. As atuações decisivas valeram demais à conquista, especialmente na final contra a Alemanha. Terminou de se transformar em lenda em Old Trafford, colecionando taças pelos Red Devils.

John Sivebaek (Lateral, 30 anos, Monaco) – Um dos nomes mais tarimbados do elenco, surgiu no Vejle, antes de rodar por Manchester United, Saint-Étienne e Monaco. Incansável, era um dos homens de confiança de Moller Nielsen. Jogou a final mesmo com uma lesão muscular. Depois rumaria ao Pescara, antes de retornar ao futebol dinamarquês.

Kent Nielsen (Zagueiro, 30 anos, Aarhus) – Dono de enorme presença física, se ausentou apenas das semifinais contra a Holanda, para encaixar a mudança tática de Moller Nielsen. Revelado pelo Bronshoj, também passou pelo Brondby, até se mudar ao Aston Villa. Na época da Euro, já estava no Aarhus, onde encerrou a carreira.

Lars Olsen (Zagueiro, 31 anos, Trabzonspor) – O capitão se relacionava muito bem com Moller Nielsen desde as seleções de base. Tinha ótima leitura de jogo, assumindo a posição de líbero. Viveu os seus melhores momentos no Brondby, embora estivesse no Trabzonspor às vésperas da Euro. Depois, passou por Seraing e Basel, antes de voltar ao Brondby.

Henrik Andersen (Lateral esquerdo, 27 anos, Colônia) – Formado pelo Anderlecht, conquistou títulos importantes na Bélgica, até se transferir ao Colônia. Atravessou um excelente momento técnico durante a Eurocopa, mas o deslocamento de sua rótula contra a Holanda significou o início do fim da carreira. Celebrou a conquista em uma maca.

Kim Christofte (Coringa, 31 anos, Brondby) – Inteligente e bom em vários fundamentos, atuou em três posições diferentes na Euro. Foi zagueiro na primeira fase; meia direita nas semifinais; e lateral esquerdo na decisão. Fez o gol de pênalti decisivo contra a Holanda. Ídolo no Brondby, passou também por clubes como Colônia, Málaga e Lierse.

John Jensen (Volante, 27 anos, Brondby) – Autor do primeiro gol na final, era o motor do time, fundamental na proteção e na saída de bola. Revelado pelo Brondby, teve três passagens marcantes pelo clube, adorado pela torcida. Jogou também pelo Hamburgo e, depois da Euro, foi comprado pelo Arsenal, ficando em Highbury por quatro temporadas.

Kim Vilfort (Volante, 29 anos, Brondby) – Meio-campista talentoso e empenhado, passou 12 anos no Brondby, de 1986 a 1998. Foi sete vezes campeão nacional e defendeu a seleção em 77 partidas. Autor do gol sacramental, se ausentou apenas contra a França, quando visitou a filha no hospital. Line, de sete anos, faleceu semanas depois do título e o veterano tornou-se embaixador da luta contra a leucemia infantil. O estádio do Brondby é conhecido entre seus torcedores como Vilfort Park, em homenagem pelos serviços prestados.

Henrik Larsen (Meia, 26 anos, Lyngby) – Ganhou a posição durante o torneio, ajudando demais na ligação entre o meio-campo e o ataque. Além disso, foi decisivo tanto na classificação contra a França quanto nas semifinais diante da Holanda. Destaque do Lyngby, jogou por Pisa, Aston Villa e Waldhof Mannheim.

Flemming Povlsen (Atacante, 25 anos, Borussia Dortmund) – Um dos jogadores que mais cresceu na seleção dinamarquesa durante a virada da década. Atuava na frente, mas viveu grandes momentos nas eliminatórias recuado ao meio-campo. Sua participação na Eurocopa foi decisiva principalmente pelas assistências. Fez carreira na Alemanha, sobretudo no Dortmund, além de vestir as camisas de Colônia, Aarhus, PSV e Real Madrid Castilla.

Brian Laudrup (Atacante, 23 anos, Bayern de Munique) – O mais jovem entre os titulares, acabou eleito o melhor da competição. Estourou no “time da família', o Brondby. Ganhou notoriedade no Bayer Uerdingen, antes de passar pelo Bayern de Munique, onde não se saiu tão bem. Depois do título, foi parceiro de Batistuta no ataque da Fiorentina, mas sem justificar tanto a confiança. Por clubes, seu ápice veio no Rangers. Defendeu ainda Milan, Chelsea, Copenhague e Ajax. Somou 82 partidas pela seleção, brilhando na Copa de 1998.

Torben Piechnik (Zagueiro, 29 anos, B 1903) – Solução para a reta final da campanha, ajudou bastante contra Holanda e Alemanha, especialmente ao sair para o combate contra os atacantes adversários. Fez a carreira praticamente inteira no próprio futebol dinamarquês, apesar da transferência ao Liverpool após a Euro, onde não emplacou.

Bent Christensen (Atacante, 25 anos, Schalke 04) – Fundamental nas eliminatórias, surgiu muito bem no Brondby às vésperas da Euro, mas já era bastante rodado. Transferido ao Schalke, foi titular no início da campanha, mas perdeu a posição ainda na primeira fase. Posteriormente, teve bons momentos no Compostela.

Lars Elstrup (Atacante, 29 anos, Odense) – Fez o gol decisivo contra a França e converteu um dos pênaltis diante da Holanda, sempre saindo do banco de reservas. Tinha uma experiência considerável, que incluía estadias no Feyenoord e no Luton. Aposentou-se em 1993, após entrar para uma seita.

Torben Frank (Atacante, 23 anos, Lyngby) – Titular contra a França, é outro produto da base do Brondby. Ganhou uma chance na seleção pela boa fase do Lyngby e depois se transferiria ao Olympique de Marseille, mas mal teve espaço na França. Depois, retornaria ao futebol dinamarquês, sem nunca estourar realmente.

Claus Christensen (Defensor, 24 anos, Lyngby) – Entrou no segundo tempo contra Holanda e Alemanha, essencial para reforçar a marcação. Inclusive, deu a assistência para o gol decisivo de Vilfort, ganhando uma disputa pelo alto. Dedicou-se ao Lyngby durante toda a carreira e pendurou as chuteiras cedo, em 1998.

Dicas: Vale conferir o filme ‘Verão de 92’, que serviu como uma das bases a esta reportagem. O longa metragem reconta a saga da Dinamarca sob a ótica de Richard Moller Nielsen.



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