Internacional
90% da população da Síria está vivendo na pobreza
Relatório da Comissão de Inquérito da ONU mostra que níveis de sofrimento atingiram novo patamar com escalada da violência, colapso da economia e desastre humanitário; conflito começou há 11 anos e crise na Ucrânia criará impactos para a segurança alimentar.
| ONU NEWS
O nível de sofrimento da população da Síria atingiu um novo patamar, com a escalada recente da violência, o colapso da economia e a piora da crise humanitária. Esta é a conclusão do relatório da Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, divulgado esta quarta-feira.
Após 11 anos de conflito no país, cerca de 90% da população está vivendo na pobreza. A publicação destaca que a “Síria está indo para um novo abismo, com mais bombardeios e ações militares e também mais abduções e assassinatos em zonas de conflito”.
Insegurança alimentar
O presidente da Comissão de Inquérito, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, explicou, em entrevista à ONU News, que o conflito na Ucrânia terá impactos para os sírios.
“A questão da Ucrânia é realmente muito preocupante porquê o trigo é importado diretamente da Ucrânia. O outro fator são as 7 milhões de pessoas internamente deslocadas. Só na região noroeste, temos mais de 2 milhões de deslocados internos, sendo que metade vive em campos, em uma situação muito precária.”
A rotina de mulheres, crianças e homens continua ainda mais difícil e perigosa. O documento afirma que 12 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar e um número sem precedentes de 14,6 milhões de civis dependem de assistência humanitária.
A violência para a obtenção de dinheiro aumentou ainda mais com a “situação econômica desesperadora”. A Comissão de Inquérito nota sequestros para pedidos de resgate, extorsões e apreensão de propriedades que são confiscadas ou de plantaçõs, para vender as colheitas.
O documento atribui essas violações a forças do governo sírio e grupos armados, tentando controlar territórios e tendo como alvo as minorias.
Pior seca
No campo climático, a Síria está enfrentando a pior seca em décadas. Com a inflação a 140%, o preço das commodities mais básicas já está fora de controle.
Paulo Sérgio Pinheiro declarou ainda que possíveis sanções “poderão causar o impedimento da ajuda humanitária, com impactos arrasadores para todos, excepto para as elites econômicas e políticas”.
O relatório aborda também a discriminação baseada em gênero e a violência contra meninas e mulheres. Muitas deslocadas internas estão sem documentos e menores são forçadas a se casarem, enquanto meninos são enviados para o trabalho infantil ou recrutados para o conflito.
Civis assassinados em acampamento
O documento nota ainda aumento dos bombardeios entre Exército Nacional Sírio, que tem o apoio turco, e Forças Democráticas Sírias no noroeste do país. Na região noroeste, em Idlib e Alepo, áreas residenciais são alvo de ataques indiscriminados pelas forças pró-governamentais.
Outro integrante da Comissão de Inquérito, Hanny Megally, declarou que “uma noiva foi assassinada no casamento, junto com suas quatro irmãs; um campo de deslocados para viúvas e suas crianças também foi alvo de ataque e menores de idade sofrem com a violência quando caminham para a escola.
A Comissão de Inquérito também recomenda aos Estados Unidos para realizarem uma investigação independente e imparcial sobre incidentes envolvendo civis durante ações da aliança liderada pelos norte-americanos entre 2018 e 2019.
Sobre os acampamentos de Al Hol e Al Roj, noroeste do país, o relatório menciona condições cruéis e desumanas dos locais que abrigam 60 mil pessoas, sendo 40 mil crianças.
As tensões nos acampamentos são cada vez maiores, incluindo atos como assassinatos e violência em larga escala. Somente no ano passado, mais de 90 pessoas foram mortas em Al Hol.