Economia
Carne bovina do Brasil começa a chegar aos EUA
| BRASILAGRO
Volume ainda é pequeno, mas exportadores apostam na melhora da demanda americana, devido ao cenário atual daquele país.
O Brasil avança nas exportações de carne bovina para os Estados Unidos. No mês passado, foram 131 toneladas de carne desossada e congelada, um volume mensal que não era registrado desde 2017. No ano, são 142 toneladas.
Esse volume ainda é pequeno e fica bem abaixo da média de 2.000 toneladas por mês exportadas em 2017, quando o mercado americano, após duas décadas fechado, havia sido reaberto para os exportadores brasileiros.
Nove meses depois, ele foi fechado novamente devido à presença de abscessos na carne brasileira, provocados por vacina contra a febre aftosa.
Reaberto novamente em fevereiro deste ano, o Brasil não tem uma cota específica de exportação para os Estados Unidos, como têm Argentina e Uruguai. Os brasileiros disputam, com outros exportadores, uma cota de 65 mil toneladas por ano.
Esse movimento de alta nas exportações brassileiras ocorrido no mês passado está ligado a vários fatores. E um deles pode ser a drástica redução na produção de proteínas ocorrida nos Estados Unidos a partir de março.
Os frigoríficos americanos já vinham com dificuldade de mão de obra, devido às imposições migratórias do presidente Donald Trump. Além disso, o crescimento das exportações australianas para a China reduziram a oferta de carne bovina no mercado americano.
A chegada da Covid-19 agravou ainda mais a situação dos americanos e faz o país viver um dos piores momentos na produção de proteínas da sua história.
A Covid-19 avançou e afetou de maneira intensa os trabalhadores da cadeia frigorífica. O resultado foi a necessidade de fechamento ou redução do ritmo de trabalho em algumas dezenas de unidades industriais.
O país passou a produzir 30% menos carnes, houve redução de oferta, e os preços subiram. Nesta semana, um dos frigoríficos do país anunciou que 570 dos seus 2.244 funcionários testaram positivo para o vírus.
O Brasil pode entrar nesse vácuo de queda de produção dos Estados Unidos. Os americanos, em anos normais, produzem 12,5 milhões de toneladas de carne bovina por ano, exportam 1,4 milhão e têm a necessidade de importação de 1,3 milhão. O consumo total do país é de 12,4 milhões de toneladas.
As exportações brasileiras, dentro da cota que o Brasil divide com outros países, tem tarifa diferenciada. Fora deste volume de 65 mil toneladas, porém, a taxa é elevada e o exportador precisa fazer contas sobre o custo do boi e as vantagens das exportações.
Até o dia 18 de maio, apenas 5,2% dessa cota havia sido preenchida. Alguns participantes desse setor no Brasil dizem que, com a alta dos preços nos Estados Unidos e com a taxa de câmbio favorável, o Brasil já teria condições de exportar fora da cota.
As exportações do mês passado, que somaram 131 toneladas, foram negociadas em valores entre U$ 4.300 a US$ 4.600 por tonelada, um valor atrativo.
Os pecuaristas americanos sempre rejeitaram a participação do Brasil no mercado deles, devido à concorrência do produto brasileiro. O cenário atual trará uma consolidação melhor desse mercado para o Brasil.
Em muitos casos são empresas brasileiras exportando para empresas americanas, mas que pertencem ao mesmo grupo empresarial.
Os argentinos e os uruguaios têm uma cota individual de 20 mil toneladas por ano. A Argentina já preencheu 19% desse volume, e o Uruguai, 45%. A cota da Austrália é de 378 mil toneladas, que já exportou o correspondente a 22% desse volume.
A carne bovina brasileira tem um forte peso na balança comercial. No ano passado, foi exportado 1,8 milhão de toneladas, no valor de US$ 7,6 bilhões (Folha de S.Paulo, 22/5/20)
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