Agronegócios
Covid-19:Oportunidade para Brasil reposicionar imagem,mas depende de ações
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A pandemia de covid-19 é uma “grande oportunidade” para o Brasil “reposicionar a imagem lá fora" como um fornecedor confiável de alimentos, tanto em quantidade como em qualidade, disse o professor e coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, no webinar “Os Desafios do Agro Brasileiro frente aos efeitos duradouros da pandemia”, promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso nesta quinta-feira.
Segundo Jank, não basta mostrar capacidade de produção; é preciso comprovar a sanidade da agropecuária local. “Essa oportunidade exige ações mais organizadas do Estado e uma presença maior do setor privado, chegando no mercado final, conversando com todos os atores, explicando coisas importantes do Brasil tanto na área da sustentabilidade como cada vez mais da sanidade”, disse Jank.
Um exemplo, segundo Jank, é a discussão sobre regularização fundiária. “Estamos vendo esta semana o debate sobre a regularização fundiária no Brasil, que é um tema importantíssimo e antigo, e não vi nenhum documento em inglês feito pelos brasileiros explicando o que está acontecendo”, disse.
Jank assinalou, ainda, que a resolução do problema de titulação de terras é fundamental para a redução do desmatamento ilegal. “Uma coisa importante é aumentar a nossa capacidade de comunicação em inglês e ter muito mais presença nos mercados, não só na Europa mas na China.”
Conforme Jank, a sanidade dos alimentos “vai emergir como uma das questões mais importantes” no mundo pós covid-19, com a sustentabilidade e a saúde humana. “Vai ter grande esforço por mais certificação, rastreabilidade, digitalização e controle sanitário”, afirmou.
O professor apontou a importância de diversificar mercados e produtos na pauta de exportação brasileira, mas voltou a defender a necessidade de manter uma boa relação com a China. “É o grande país que compra os nossos produtos, com o qual a gente tem que manter boas relações”, disse.
Para o economista e professor da Unicamp Antônio Buainain, que também participou do webinar, a China não está só preocupada com produto agropecuário barato, mas também com qualidade. “Não teremos escapatória a não ser melhorar muito nossos indicadores de boas práticas agropecuárias”, disse, ressaltando a necessidade de investimento crescente em tecnologia para aprimorar o uso de insumos na agropecuária brasileira.
“O que nós fizemos no passado nos assegurou chegar até aqui. Mas as tecnologias que conquistamos, dominamos e aplicamos para chegar até aqui não são as tecnologias que nos levarão ao futuro.”
Ele lembra que a China vem investindo na inovação para superar gargalos na produção local e na diversificação de fontes de suprimento. “Esse casamento China e Brasil hoje é uma realidade, mas a China não está parada.”
A economista e professora da Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP) Maria Sylvia Macchione Saes destacou que, para se manter como grande player do agronegócio mundial, o Brasil deve intensificar a adoção de tecnologias como georreferenciamento e uso de drones para viabilizar a rastreabilidade dos produtos.
Na avaliação dela, são necessárias políticas públicas para garantir esse avanço. “A internet no campo precisa estar lá. E precisa uma política pública para levar internet para o campo” (Broadcast, 21/5/20)