Dourados
Escritora douradense vence pela segunda vez Concurso Internacional de Conto e Poesia
| REDAçãO
A escritora douradense Ivone Macieski venceu, pelo segundo ano consecutivo, o Concurso Literário Internacional de Conto e Poesia Reinaldo Corona, realizado pela Huning Editora. A edição deste ano contou com a parceria da Prefeitura de Sarandi –RS, Secretaria de Educação de Sarandi e JCI Sarandi, além da UCEFF Faculdades.
Conforme divulgação da editora, foram 171 inscritos, envolvendo sete países, tendo como tema “A fome no mundo”. Desse total, foram selecionados 10 contos e 10 poesias, que comporão a coletânea “Reflexões”. No mesmo livro foram selecionados textos dos alunos da Rede Pública de Ensino de Sarandi.
Para Ivone, “é um prazer imenso participar desse concurso e pela segunda vez ser classificada para fazer parte da coletânea. O nível dos participantes é excelente e isso me dá muito orgulho – ser escolhida entre tantos escritores nacionais e internacionais”, festeja a escritora.
O livro será lançado nos próximos meses, em data a ser definida pela editora. “Ainda não podemos marcar o lançamento, pois dependemos, como todo o país, dos encaminhamentos hoje ligados à pandemia; esperamos que seja possível fazê-lo o mais rápido possível”, explicou
Eliane Huning, coordenadora do concurso.
Ao final da matéria, ouça a entrevista de Ivone Macieski à Gazeta MS.
Classificados
Foram classificados os seguintes trabalhos:
Modalidade Conto:
1. A fome do outro – Francisco Adelmo Passos da Maceno
2. O Cloche – Ricardo Souza Carvalho
3. Um alimento para alma – Alda Inácio
4. No rio há mistérios, beleza e fome – Bianca Souza de Araújo Pinheiro
5. Um Monstro – Mario Sergio Ribeiro
6. Metamorfose: A fome de ser quem você é! – Priscyla Schultz
7. Era uma vez... – Patrícia Reis de Magalhães
8. Deve ser um pesadelo – Vinícius Ryan de Sousa Montenegro
9. Os decretos do corpo – Adriano Monte Alegre
10. A fome do mundo – Maria de Lurdes Capponi
Modalidade Poesia
1. Fome – Maria Teresa Portal G. de Oliveira
2. Quem pode salvar o ser humano? – Tiago Oliveira de Moraes
3. Iconoclastia – João Carreira
4. Fome de sabedoria – Diogo Alexandre Gonçalves Gouveia
5. Fome – Beatriz
6. A dolorosa fome – Leandro Cleiton Fabreto
7. Fuga – Maria Elisa Yule Correa Dias
8. Migalhas – José Carvalho do Nascimento
9. Um vazio faminto – Neldi Maria Senger
10. Você tem fome de que – Ivone Macieski
A Composição da Comissão de Curadoria Literária foi a seguinte:
Prof. Me. Adriano Kolakowski
Prof.a Me. Adriana Diniz Baldissera
Prof.a Me. Silviane Lawall Soares
Poesia de Ivone Macieski
VOCE TEM FOME DE QUE
Em minhas veias, corre o sangue cigano,
Meu RH, “O” positivo e nobre,
Em mim, há um orgulho quase profano,
Em ter nascido pobre...
Minha aldeia, em Arroyo Feliz,
Foi extinta pela ganância.
Fizeram uma hidrelétrica, de chamariz,
Destruindo meus sonhos, de infância.
Vi pássaros, terem seus cantos apagados,
Animais silvestres dizimados,
E murmurações, para todos os lados,
Mas não vi políticos tristes, arrasados.
Vi governos, fazendo festa,
E outras gentes concordando,
Ninguém, para aparar a aresta,
E impedir, do paraíso ir se acabando...
Doeu jovem, ver as árvores sumindo,
O ribeiro, sem peixe nem fluido,
A fartura da gleba, com a torrente partindo,
Meu sonho de passarinho diluído...
Meu sangue cigano, ferve torto,
Meus olhos esmeralda, facit indignatio,
O Papa defendendo tese, de um regime morto,
E alguém pede comida no banco do pátio...
Antes meus pés, fincados em minha aldeia!
Onde o abraço, era sempre quente,
Mas hoje meu sorriso sombreia,
Da falta que me faz um parente...
Meus olhos, famintos de outrora,
Sentem na pele, o impor do abrolho,
Meus sorrisos mimosos, falta da aurora,
Das coisas, que dentro de mim recolho,
Trago de meus ancestrais, centenas de anos!
O amor, como profissão de fé,
Vi tantos inocentes, passar por desenganos,
Pelos pais, atirados da janela do chalé...
E vens tu e perguntas, tens fome de que...
Tenho fome de gente com desprendimento,
Que a sete quedas não hipoteque,
Para entender das coisas que lamento,
Tenho fome, muita fome de esperança!
De ver a justiça de algum jeito,
Fazendo jus, aquela criança,
Que diziam ser protegida do sujeito...
Fome! Minha alma sente necessidade
De coisas que não mais infere,
Dos tempos de Andaluzia, hombridade,
Que as atrocidades, não reitere...
Tenho fome sim, de sorriso aberto,
De abraços apertados, de rosto colado,
Tenho fome sim, do mal feito descoberto,
Viver sem desconfiança de um futuro imolado...