Não há estudo que recomende cloroquina contra Covid-19, diz Mandetta

Ex-ministro está preocupado com aplicação da medicação em unidades básicas para casos leves

| ROGéRIO VIDMANTAS


Mandetta disse que uso da cloroquina em unidades básicas de saúde pode levar a automedicação (Foto:Agência Brasil)

Sem um titular na pasta desde a saída de Nelson Teich, que ficou pouco menos que um mês no cargo após substituir Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde incluiu nesta quarta-feira (20) a cloroquina e seu derivado hidroxicloroquina no protocolo de tratamento para pacientes com sintomas leves da Covid-19. A ação era um desejo do presidente Jair Bolsonaro e teria, inclusive, sido a principal causa de atrito entre ele e os dois ex-ministros. Interinamente, quem responde pela pasta é o general Eduardo Pazuello.

Em entrevista à Globonews, Luiz Henrique Mandetta viu com ressalvas a decisão do Governo em alterar o protocolo da utilização da cloroquina e afirmou que a mudança vai no sentido contrário ao que apontam os estudos feitos até agora com relação à droga no tratamento da Covid-19. “Até onde eu sei, não há nenhum estudo que recomende o uso ambulatorial da cloroquina conforme foi colocado pelo Brasil na data de hoje [terça-feira]", lamentou.

O ex-ministro foi mais longe e alertou que a cloroquina fora do ambiente hospital restrito, conforme autorizava o protocolo anterior, pode até trazer mais complicações do que solução, principalmente no caso dos pacientes mais idosos. “Nós autorizamos para o uso dos pacientes graves que estão em hospital sem entubação e gravíssimos que estão em hospital em entubação, disponibilizamos o medicamento para uso hospitalar porque o que mais preocupa é a arritmia cardíaca. [Uma coisa é] colocar o medicamento na unidade básica para o paciente jovem ele passa muito bem com esse ou qualquer outro remédio. O duro é quando tivermos pacientes com 65, 70, 75 anos e der entrada com a cloroquina e eles tiverem arritmia em ambiente familiar. Pode acontecer a morte súbita ou podemos fazer fibrilação e precisando de leitos em CTI, piorando a situação”.

Automedicação

De acordo com Mandetta, os efeitos colaterais mais graves da cloroquina eram sentidos em um terço dos pacientes monitorados. “Um trabalho brasileiro que vinha sendo feito, nós conversávamos para saber as quais eram as impressões, na primeira fase 33% das pessoas que estavam recebendo a cloroquina internadas sobre monitoração tiveram que suspender por arritmia grave que poderia levar à parada. Principalmente a cloroquina associada com a azitromicina que potencializa o efeito cardiotóxico”, explicou.

Outro ponto levantado pelo ex-ministro é a facilidade em se conseguir a cloroquina em postos de saúde após a mudança do protocolo. Segundo ele, a inexperiência de médicos que atendem nestas unidades pode ser um facilitador nesse caminho do medicamento até a população. “A população fazendo a solicitação, eles acabem prescrevendo e as pessoas levarem e fazendo automedicação e tendo problema. Espero que a população seja bem esclarecida porque isso é uma droga que tem efeitos colaterais e não seja mais um agravante na já tão dura realidade que é a infecção desse vírus que é muito mais que uma infecção respiratória”, completou.

 



PUBLICIDADE
PUBLICIDADE