Mudanças climáticas e pandemia agravam problema da fome no planeta

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No futuro, mais de 183 milhões de pessoas em famílias de baixa renda ficarão à beira da fome crônica

Uma realidade cruel que ficou ainda mais escancarada com a pandemia: 19 milhões de brasileiros estão em situação de fome extrema. Outros 49,6 milhões vivem a chamada insegurança alimentar, ou seja, não possuem acesso pleno e permanente a alimentos. Mas além da Covid-19, existem outros fatores que também agravam o problema: as mudanças climáticas. As catástrofes ambientais que aconteceram em países de baixa e média renda, entre 2008 e 2018, provocaram mais de 100 bilhões de dólares em perdas de safras e produção de animais. Se hoje muitos tem a praticidade de vir ao supermercado e escolher os alimentos, no futuro, há dúvidas. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alerta que à medida que as alterações no clima reduzem a produtividade, os preços dos alimentos devem aumentar em quase um terço em meados do século. No futuro, mais de 183 milhões de pessoas em famílias de baixa renda ficarão à beira da fome crônica, explica o representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação no Brasil, Gustavo Chianca.

“Muitos agricultores, muitas pessoas tendo que abandonar [agricultura] porque não conseguiam mais produzir pela variabilidade. Ou seja, muito calor, muita seca ou muito frio, chuva. Uma variabilidade muito grande da mudança do clima que se refletia em uma baixa produção e uma diminuição do consumo e de fome”, relata. A combinação de pouca chuva, altas temperaturas e secura forma um dos pilares para que o alimento não chegue à mesa de forma regular. Agricultura e a pecuária são os primeiros setores a sofrerem com a estiagem, alerta o coordenador-geral de pesquisa e desenvolvimento no Cemaden e membro do IPCC, José Antônio Marengo. “Se vem um fenômeno como uma seca de vários anos e muito intensa, essa produção de soja, de commodities, de cana de açúcar, pode ser afetada pela seca. É claro que a Embrapa, por exemplo, pode trabalhar com variedades mais toleráveis a altas temperaturas ou mais tolerantes a deficiência hídrica, mas há um limite que aí não há como manter. Aí muda para outro tipo de agricultura ou a pessoa simplesmente abandona o campo e vai para outras áreas”, pontua.

O documento do IPCC adverte que, além da insegurança alimentar, as altas temperaturas podem afetar o valor nutricional dos alimentos. O teor de proteínas do arroz, trigo e batata deve cair entre 6,4% e 14,1%, colocando cerca de 150 milhões de pessoas em risco de deficiência de nutrientes. A estimativa é que mais de 10 milhões de crianças na Ásia e na África possam sofrer de desnutrição e atraso no crescimento. Para Gustavo Chianca, os efeitos na saúde humana não serão sentidos da mesma forma por todos, mas o mundo inteiro será impactado pela desigualdade. “Como consequência, as pessoas de baixa renda em uma crise vão ter menos condições de se alimentar, de terem água de qualidade, de poderem comprar. Então o impacto da mudança do clima vai ser diferente entre os países, entre a renda desses países e entre as populações de baixa renda e aquelas que têm condições de sobreviver durante o período de crise, de doença, de uma situação não confortável para o futuro.”

*Com informações da repórter Lívia Fernanda



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