Psicólogos falam sobre os impactos da pandemia sobre a saúde mental

| O JACARé


Não foi só a pandemia da covid-19 que evidenciou os transtornos mentais dos brasileiros. A doença, contudo, acentuou a percepção dos problemas e muitas pessoas desconhecem como reconhecê-los. Para falar sobre esses assuntos ouvimos os psicólogos clínicos Giovana Guzzo Freire* e Élcio de Araújo Lima**, que abordaram os principais impactos da covid-19 na população e como reconhecer os problemas.

Os impactos sobre a saúde mental diante da pandemia da covid-19 são iguais para todas as pessoas?
A saúde mental é um englobamento dos processos biopsicossociais da vida do ser humano. Cada pessoa tem a própria vivência, o jeito como aprendeu a se posicionar, as opiniões na sociedade, as escolhas, vontades, é tudo o que nos constitui. A maneira como reagimos e enfrentamos situações que nos trazem sensação de alegria, vulnerabilidade e/ou sofrimento é bastante singular, podendo variar devido aos ensinamentos familiares, religiosos, políticos, tecnológicos, escolares e culturais.
Para a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS/PAHO, 2018), os atributos da saúde mental, para serem considerados saudáveis, são: capacidade de administrar o pensamento, as emoções e o comportamento; interação social e criação de laços; fatores socioculturais; econômicos; políticos e ambientais. Por esse motivo, a maneira como cada pessoa, comunidade e sociedade experimenta o momento de pandemia é muito diferenciada.

Quando um desses atributos em saúde, escapa do planejamento habitual, por causa por exemplo de um desemprego, rompimento de relação afetiva, aparecimento de doenças, desastres ambientais, desestabilidade financeira súbita, uso de psicotrópicos, entre outros, nos força a repensar rapidamente o modo de enfrentamento para os desconfortos da vida.

Como o distanciamento físico imposto pela pandemia da covid-19 prejudica a saúde mental?
Quando sofremos com o distanciamento social, com as incertezas deste momento, com a quarentena, as preocupações e tensões de não ser contaminado e não contaminar, o lockdown, luto de entes queridos que faleceram, e todas essas ações que vivenciamos na pandemia, gera em nós uma angústia. Até certo ponto, pode ser interessante elaborarmos novos propósitos para a vida e nos sentirmos seguros com nossas escolhas.

Se mais de uma vez ao dia, ao longo de duas semanas, aparecerem pensamentos de pessimismo, medo de morrer e/ou ser contaminado, instabilidade de humor, choro fácil, uso exagerado e frequente de subterfúgios para escamotear a angústia como drogas, álcool e cigarro, aparecimento de insônia, falta de apetite severo ou compulsão alimentar aparecerem, isso já pode caracterizar uma crise emocional e deve ser consultado um psicólogo.

De que forma a psicoterapia pode ajudar para o tratamento dos transtornos causados pela pandemia da covid-19 na saúde mental?

Um tratamento psicoterápico tem a função de identificar o problema que traz sofrimento, investigar e analisar o campo biopsicossocial da vida do sujeito, identificar alterações físicas e mentais, ordenar os fenômenos observados, analisar e levantar causas diagnósticas, realizar um planejamento estratégico para execução e empreender um tratamento e monitoramento até a conclusão.

Quais são os transtornos mentais mais comuns levados aos consultórios por conta da pandemia da covid-19?
Os transtornos mentais mais comuns que estão sendo relatados pelos pacientes nos consultórios de psicoterapia são: síndrome estresse, tristeza, ansiedade e depressão. Todos passamos por sofrimentos psíquicos, em qualquer etapa da vida, em todas as idades, incluindo crianças e adolescentes.

De que maneira as crianças e adolescentes estão reagindo ao que lhes foi imposto, nomeadamente as aulas virtuais?
A dificuldade de adequar-se à realidade de aulas virtuais, por exemplo, gera diversos sintomas e comportamentos novos. Cada um de nós enfrenta os desafios da vida com o que aprendemos, com nossas referências simbólicas sobre vida e morte, sobre o que é fácil ou difícil, sobre conceitos da vida e apoio individual e coletivo.

Podem aparecer as “fugas psicológicas”, que são maneiras de negar o acontecimento de um fenômeno que traz sofrimento. Não querer estudar, por exemplo, não pode ser resumido tão rapidamente como frescura, fraqueza de personalidade e nem preguiça.

É o aparecimento de comportamentos que prejudicam o sujeito, pode ser um sinal de que algo não vai bem emocional e por isso a pessoa foge. Ou seja, busca um meio de enfrentamento que consegue dar conta nesse momento de pandemia.

Isso, de modo algum, é uma justificativa para não querer ir à aula ou fazer a tarefa escolar. É importante manter as atividades cotidianas para que neuro psiquicamente, o cérebro se habitue com uma rotina diária e continue a funcionar de modo produtivo trazendo satisfação para a pessoa, por meio do que ela realizou.

E como agir diante de tantas mudanças impostas pela pandemia da covid-19?
É preciso enfrentar com planejamento estratégico pessoal tudo aquilo que nos incomoda e, nos acomoda, e não nos faz mudar.

Ainda podemos ter encontros on-line com amigos, parentes, pais, avós, trabalhar, renovar laços afetivos encontrar apoio virtual, atendimentos à saúde, tele consultas médicas, psicoterapia, meditação, aulas EAD, shows, vídeo, música, filmes, seguir uma religião, estudar e aprender com vídeos, textos, livros digitais, palestras virtuais (lives) e transmissões nas redes sociais etc. O distanciamento é físico, mas podemos estar juntos virtual e emocionalmente.

*Giovana Guzzo Freire. Psicóloga clínica CRP14/03270-3
**Élcio de Araújo Lima Psicólogo clínico CRP14/ 07605-4

Tem dúvidas sobre o tema saúde?
Quem desejar contribuir para o nosso boletim pode entrar em contato pelo e-mail: [email protected].



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