Hendy Kavaju Resa - Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD

Tradução literal: Acendeu a cabeça do cavalo

| DO AUTOR/GAZETA MS


Acendeu a luz vermelha para o corona vírus nas comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul. A cabeça do cavalo, porém, já está acesa faz é tempo. O boletim da Secretaria Especial de Saúde Indígena (sesai) desse sábado (16/05/2020) apontou dez casos confirmados na Reserva Indígena de Dourados, a mais populosa do país, onde vive confinada 18% de toda a população indígena de Mato Grosso do Sul. O boletim do dia 16 aponta 77 casos suspeitos. Nesta área falta água com regularidade, saneamento básico, condições dignas de moradia e acesso à terra, uma situação familiar a muitas comunidades no Brasil.

No último dia 19 de abril, quando não havia confirmado nenhum caso positivo da reserva indígena, apesar das recomendações em contrário, houve comemorações em algumas comunidades, os campeonatos de futebol e cultos continuam diariamente. Um misto de falta de informação e temeridade. A pobreza, bem o sabemos, é o maior fator de risco ao corona vírus e de muitas outras doenças infecciosas. Talvez por este motivo, algumas autoridades não levam a sério as medidas de contenção da doença e ignoram a quantidade de mortes sem ao menos uma manifestação de pesar aos familiares.

A Reserva Indígena de Dourados (RID) está conurbada à segunda maior cidade do estado e uma das mais prósperas do país com lojas de grife, concessionárias de carros luxuosos, grandes propriedades rurais, frigoríficos e usinas de álcool, mas a riqueza que se construiu ao mesmo em que os povos indígenas eram expurgados não lhes contagiou, apenas as doenças infecciosas como a COVID-19 e o abandono no interior da reserva os infectou, como mostram os boletins epidemiológicos da saúde indígena.

Mais de 500 anos de isolamento social, sem projetos e sem recursos financeiros, sem saúde, moradia, sem educação de qualidade e isolados socialmente pela negação do direito à terra. Como poderiam atender as recomendações da OMS para preservar a saúde e evitar o contágio com o Corona Vírus, desabafam muitos professores indígenas, indicando o descaso histórico com as autoridades que não cumpriram as promessas de dignidade e o dever de garantir a sobrevivência dos povos indígenas.

Por estes motivos é que hendy kavaju resa.

 

RESUMO da epidemia COVID-19

Data 16/05/2020 – horário 20:33

mundo: 4.716.988 (confirmados); óbitos: 312.385;

Brasil: 233.142 (confirmados); óbitos: 15.633;

Mato Grosso do Sul: 479 (confirmados); óbitos: 17;

INDÍGENAS NO BrASIL: 371 (área rural), 506 (total); ÓBITOS: 23 (área rural), 99 (total); 40 povos afetados.

pólo base de Dourados: 10 (confirmados); 77 (suspeitos); ÓBITOS: 0

 

NOTAS:

1. Esclarecimento: Hendy Kavaju Resa, do guarani popular, significa mal-estar intenso e profundo.

2. Pesquisa e organização: Neimar Machado de Sousa, doutor em história da educação pela UFSCar e pesquisador na FAIND/UFGD. Karai Nhanderovaigua.

E-mail: [email protected]



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