Suspensão de vendas de carne na Argentina favorece Brasil | Brasilagro


Suspensão de vendas de carne na Argentina favorece Brasil

_Frigorifico_Marcos-Brindicci_Reuters

Legenda: No Brasil, a arroba bovina segue cotada acima de 300 reais, conforme o indicador do centro de estudos Cepea

Asuspensãodas exportaçõesdecarnes recém-anunciada pela Argentinadevedeslocar parte dademanda externapara oBrasil, seu concorrente direto, porém abre espaço para que as cotaçõesdoboi, que já operam em patamar elevado, alcancemnovas máximasno mercadobrasileiro, conforme analistas ouvidos pela Reuters.

O governo argentino disseontem (17)que o bloqueiodevendaspor 30 dias é uma medida emergencial devido ao sustentadoaumento nopreçodacarnebovinano mercadolocal.

“Afeta oBrasilpositivamente porque, assim como noBrasil, a Chinaé o principal mercadopara os argentinos, então provavelmente os chinesesdeverão reforçar seus pedidosdecarneno restantedomundo“, afirmou hoje (18) o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres.

Ele lembrou que, segundoo governo argentino, a medida podeaté ser revertida antesdoprazo caso se encontre uma solução para limitar a inflação.Mastambém há riscodecontinuidadeda intervenção por mais tempo, o que, para osbrasileiros, seria uma “oportunidade“.

“Isso gera toda uma expectativa negativa quanto ao cumprimentodecontratos pelos argentinos”, acrescentou sobre a visãodos compradores internacionais.

Torres também disse que, historicamente, a Argentinajá fez este tipodeintervençãonatentativadecontrolarpreços e nãodeu certo, por não existir uma relação direta entre as exportações e opreçointerno dacarne.

“O sistema funcionaem ciclos (pecuários) e eles, assim como nós, estão em um ciclodealtadepreços”, ressaltou ele.

Isso significa que há chancesdeas restrições aos embarques continuarem alémdoperíodoestipulado.

MAS…

Parece um cenário perfeito para a concorrência,masnão é.

A diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel, alertou que os compradores nãodeixarãodeser atendidos,maseste movimento também significa novas altasdepreçopara oBrasil, ondea escassezdegadojá eleva os custos.

“É mais um fatordesuporte para ospreços pecuários, inclusive no médio/longo prazo, caso a restrição persista”, afirmou ela.

Ainda que a medida dure apenas 30 dias, a especialista acredita que já seria suficiente para alguma movimentaçãonas cotações da arroba, mesmo que em menor proporção.

“Hoje a disponibilidadedecarneé baixa globalmente, então tudoajuda asustentar as cotações”, explicou.

NoBrasil, a arroba bovinasegue cotadaacimade R$300, conforme o indicadordocentrodeestudos Cepea.

Doladodademanda, as exportações têm dadosustentação aospreços da arroba noBrasil.

A receita com a exportaçãodecarnebovinainnaturadoBrasilsubiu 2,3%no primeiro quadrimestre, para um recordedeUS$2,16 bilhões, com impulso da China, que respondeu por cercademetadedeste valor, segundoo Ministério da Agricultura.

EMPRESAS

A Marfrig Global Foods e a Minerva Foods são as empresas diretamente afetadas peladecisão argentina, por terem operações no país vizinho.

A Marfrig divulgou hoje um comunicadoao mercadodizendoque o impacto se limita a 1,3% da receita líquida consolidada. A concorrente não quis comentar.

E a expectativa é que a Minerva seja a mais afetada, pois no total as operações da Argentinarepresentam cercade10%dofaturamento global da empresa, disse o headdeagronegócios da Criteria Investimentos, Rodrigo Brolo.

“Não vai cair pela metade(a receita) por causadesuspensãoem 30 dias,masabala a confiançados investidores.”

“A Minerva podefalar que agora vai exportar mais peloBrasilpara suprir essa falta,masnem sempre é tão simples, pois aqui a qualidadedoboié diferente, os cortes diferentes, não é como vender milho ou soja, são produtos customizados.”

Em reação àdecisãodogoverno, e para complicar o cenário no país vizinho, as principais associações agropecuárias da Argentinaanunciaram hoje umasuspensãodasvendasdegadopor nove dias em protesto contra a interrupção das exportaçõesdecarnedopaís (Reuters, 18/5/21)

Legenda: O país é o sexto maior produtor global de carne bovina e foi o quinto maior exportador em 2020

AArgentinaanunciou uma suspensão por 30 dias dasexportaçõesde carnes, em meio a preços em alta que geraram no governo preocupação com a perda de controle dainflaçãoantes de eleições para o Congresso no final do ano.

O governo disse ontem (17) que vai implementar a medida emergencial devido ao “sustentado aumento no preço da carne bovina no mercado doméstico”, confirmando informação antecipada à Reuters por fontes da administração federal e da indústria mais cedo.

O governo acrescentou que durante a suspensão de 30 dias serão implementadas outras medidas para melhorar aregulaçãodas exportações de carnes. O veto às exportações pode eventualmente ser reduzido para período menor se outras medidas tiverem sucesso em reduzir preços.

“As exportações foram fechadas. Amanhã vamos continuar negociando com o governo”, disse uma fonte do setor de carnes da Argentina ligada à associação de exportadores ABC, acrescentando avaliar que a medida é um erro mesmo em meio ao cenário de alta de preços.

Após o anúncio da medida, a brasileiraMarfrig, líder global em produção de carne bovina, disse que suas operações na Argentina representaram 3,2% da receita líquida consolidada no primeiro trimestre.

“Assim sendo, o impacto direto desta restrição se limita a 1,3% da receita líquida consolidada, representada pelas exportações argentinas no período”, afirmou a companhia em comunicado ao mercado hoje (18).

AMinerva, com atuação em outros países da América do Sul além da Argentina, tem a opção de compensar suas vendas a partir da produção em outras nações. Procurada, a empresa não comentou.

Nos últimos anos, a Argentina vinha ampliando as exportações de carne, especialmente para a China, ajudando a impulsionar o setor, mas também gerando temores de que os embarques em alta pudessem pressionar os preços domésticos.

O governo peronista do país busca defender sua forte posição no Congresso naseleiçõesno final do ano e aumentar sua popularidade com os eleitores, atingida pela pandemia de coronavírus. A Argentina é a sexta maior produtora global de carne bovina e foi em 2020 o quinto maior exportador, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Reuters, 18/5/21)



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