A Universidad Católica domina o futebol chileno e, pela primeira vez em sua história, é tricampeã nacional

| TRIVELA/LEANDRO STEIN


Por não ter encabeçado grandes campanhas nos torneios continentais durante os últimos anos, a Universidad Católica não recebe muito reconhecimento além das fronteiras. Porém, os Cruzados atravessam um momento para ser lembrado como um dos mais vitoriosos da história do Campeonato Chileno. Nesta quarta-feira, a Católica confirmou seu terceiro título consecutivo na liga, o quinto nas últimas sete edições da competição. São 15 troféus totais do clube. Este também é o primeiro tricampeonato da história da agremiação, e que tem ainda mais valor depois que a competição passou a utilizar o calendário cheio, sem mais os chamados “torneios curtos” a cada semestre.

Apesar do feito, a Universidad Católica atravessou transições em meio a este ciclo vitorioso. Três comandantes diferentes lideraram os Cruzados ao tricampeonato. O primeiro foi o espanhol Beñat San José, que substituiu Mario Salas após um período bem-sucedido e chegou ao topo em 2018, antes de aceitar uma proposta do Oriente Médio. A Católica buscaria então Gustavo Quinteros, que tinha experiências em seleções do continente e também trabalhava no futebol árabe. O boliviano ergueu a taça em 2019 e depois aceitou um convite do Tijuana. Então, a diretoria teria a capacidade de encontrar um treinador tão qualificado quanto, ao acertar com Ariel Holan – mais agressivo que seus antecessores na maneira de armar o time.

Por sua reputação, Holan poderia mesmo dirigir clubes mais endinheirados do continente, ao criar equipes ofensivas e se consagrar com o título do Independiente na Copa Sul-Americana. Sua mudança a Santiago, de certa maneira, surpreendeu pelo mercado que tinha à disposição. Foi para fazer história. Apesar de uma campanha razoável na Copa Libertadores, a Católica ficou pelo caminho, no grupo de Grêmio e Internacional. Depois, cairia de maneira apertada contra o Vélez Sarsfield nas quartas de final da Copa Sul-Americana. Mas a hegemonia dos Cruzados no Campeonato Chileno se manteria, sobrando ao longo da campanha.

A Universidad Católica chegou à liderança do Campeonato Chileno na primeira rodada. Não sairia mais de lá. Quando aconteceu a pausa por conta da pandemia, os Cruzados tinham seis vitórias em oito rodadas, dividindo a ponta com o Unión La Calera. Entretanto, a equipe disparou no retorno da competição em setembro. Foram oito vitórias e apenas duas derrotas nos 12 compromissos seguintes. A partir de então, os Cruzados perderiam um pouco o embalo e abusariam das igualdades. Foram sete empates nas 12 rodadas seguintes, com apenas três vitórias. Ainda assim, a gordura acumulada ajudou bastante e ninguém seria capaz de ultrapassar os líderes.

A partida do título aconteceu exatamente contra o Unión La Calera, principal perseguidor, na penúltima rodada. Uma vitória deixaria os concorrentes a dois pontos da Universidad Católica. Entretanto, a fase do vice-líder também não era muito favorável e prevaleceu o empate por 0 a 0 no Estádio San Carlos de Apoquindo nesta quarta. O resultado foi suficiente para preservar a vantagem de cinco pontos dos Cruzados e permitir que os tricampeões erguessem a taça, sem depender do resultado contra a Universidad de Concepción na rodada final. A Católica soma 62 pontos em 33 rodadas, com o melhor ataque (63 gols anotados) e a segunda melhor defesa (34 tentos sofridos). Nadou de braçada, numa campanha em que a Universidad de Chile só briga por um lugar na Libertadores e o Colo-Colo é ameaçado pelo rebaixamento.

Alguns ídolos permanecem na Universidad Católica, como o capitão José Pedro Fuenzalida e o armador Diego Buonanotte. Seguiram importantes, mas sem o protagonismo de outrora. Dos mais antigos, quem gastou a bola foi o meio-campista Luciano Aued, que descobriu sua veia artilheira e terminou a campanha com dez gols, além de quatro assistências. Trazidos durante o tri, também foram essenciais o goleiro Matías Dituro e o zagueiro Valber Huerta. Dituro tomou a posição do ídolo Christopher Toselli já em 2018 e virou um dos pontos fortes dos Cruzados. Colecionou milagres e manteve as esperanças do time nos momentos de maior dificuldade nesta reta final, talvez fechando a conquista como o melhor jogador da campanha. Já Huerta foi muito segurou e sai como o melhor defensor da competição.

O grande nome do ataque da Universidad Católica é Fernando Zampedri. O centroavante argentino participou da ascensão do Atlético Tucumán e estava no Rosario Central durante as últimas temporadas. Contratado pela Católica no início de 2020, o argentino de 31 anos atravessa o momento mais prolífico de sua carreira e somou 19 gols ao longo do Campeonato Chileno. Lidera a artilharia da competição e foi uma referência ao sistema ofensivo de Holan, contando com o apoio de Edson Puch e Gastón Lezcano nas pontas, dentro do costumeiro 4-3-3.

Para complementar os medalhões, a Universidad Católica se valeu também de uma importante camada jovem em diferentes setores, com vários pratas da casa. Raimundo Rebolledo é uma opção antiga na lateral direita, mas que indica sua evolução. Nesta campanha, quem pintou muito bem foi o volante Ignacio Saavedra. O rapaz de 22 anos se firmou na cabeça de área e seria um dos homens de confiança de Ariel Holan, cumprindo grande papel na proteção e na condução. E ainda há outras promessas que participaram da rotação, como o volante Marcelino Núñez, o zagueiro Carlos Salomón e o ponta Gonzalo Tapia.

É importante notar como a Universidad Católica não sentiu a venda de jogadores de destaque do clube, como César Pinares e Benjamin Kuscevic. Ariel Holan tem seus méritos pela forma como manejou o grupo. O treinador de 60 anos, aliás, só amplia a fama que recebe. O Campeonato Chileno pode não ser dos mais prestigiados, mas a missão dos Cruzados foi cumprida com êxito, numa temporada conturbada pela pandemia e pela sequência incessante de partidas nestes últimos meses. A liga local teve um calendário parecido com o do Brasileirão, com 26 compromissos concentrados em apenas cinco meses.

Considerando apenas os campeonatos de “temporada completa” (realizados de 1933 a 1996 e depois de volta em 2017), essa é apenas a terceira vez que acontece um tri no Campeonato Chileno – a última seria do Colo-Colo de 1991, que no mesmo ano levou a única Libertadores do país. Durante as duas últimas décadas, o Colo-Colo chegou a ser tetra e a Universidad de Chile também emendou um tri, mas se beneficiando da dinâmica de “torneios curtos”. Independentemente do formato, o peso desta Universidad Católica é muito grande ao país. Fica a espera de que os chilenos possam apresentar tal competitividade também na Libertadores, para deixar mais evidente ao restante do continente o tamanho de seu momento.

¡La Zampedrineta!


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