Estudo identifica entre indígenas em MS resistência a medicamentos para tratamento de tuberculose

A pesquisa foi publicada nessa quarta-feira (4) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e tem como público pesquisado, indígenas das etnias Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul.

| G1 / JOSé CâMARA, G1 MS


Estudo que conta como autores pesquisadores sul-mato-grossenses identificou resistência à medicamentos que combatem à tuberculose em indígenas das etnias Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul. A pesquisa foi publicada na Scientific Reports, revista do grupo britânico, Nature, nessa quarta-feira (3).

A publicação foi feita pelo grupo de pesquisa em Epidemiologia e Controle da Tuberculose em Áreas Indígenas, e financiadas pelo Programa de Inovação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A pesquisa revelou a elevada frequência de variação genética associada à resistência aos principais medicamentos utilizados no tratamento da tuberculose.

O G1 conversou com uma das autoras da pesquisa, a doutora especialista em epidemiologia e bioquímica do Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen-MS), Eunice Atsuko. A especialista descreveu o cenário da pesquisa e os resultados obtidos com os levantamentos.

Eunice destaca que se as bactérias forem sensíveis, o tratamento convencional da tuberculose continua, caso elas se mostrem resistentes, os dados são reportados ao Ministério da Saúde e iniciam a busca por medicamentos e o tratamento mais eficaz para o combate da doença.

A médica explicou que a comunidade indígena é uma das mais vulneráveis à bactéria da tuberculose, assim, fazendo com que a atenção em saúde a este grupo seja frequente. Eunice relembrou que desde de 1999 há uma rotina de serviço para atender aos indígenas com a tuberculose em Mato Grosso do Sul, com isso, a visualização dos resistentes a algum tipo de medicamento surgiu.

"Nós coletamos todas as amostras de pacientes suspeitos de tuberculose. Com a cultura positiva, realizamos o teste que irá definir se o paciente é sensível ou resistente as drogas antituberculosas. Depois confrontamos as bactérias para ver se os medicamentos estão sendo eficazes. Com isso, a cultura de bactérias se demostram sensíveis ou resistentes", explica a doutora.

Tratamento dos resistentes

Outro ponto de diferença entre os indígenas resistentes e os não, são os tratamentos. O tratamento de uma pessoa não resistente aos fármacos demora seis meses para ser concluído. Já de uma pessoa resistente, pode levar cerca de 24 meses.

“Todavia, como os Guarani e Kaiowá vivem em territórios pequenos e com alta densidade demográfica, considerados como reservas, e localizados próximos às cidades na região da fronteira com o Paraguai, nossas descobertas revelam o nível extremo de marginalização e preconceito sofrido por este grupo indígena, uma vez que as 'impressões digitais'", diz um trecho destacado da pesquisa.

A preocupação com os resistentes às medicações vieram após o sequenciamento de genético de amostras de pacientes de Mato Grosso do Sul. Os principais resultados do sequenciamento revelam elevada frequência de alteração genética associados à resistência aos principais fármacos utilizados no tratamento.

Com isso, a médica explica que a situação gera emergência de um grave problema de saúde pública. Como alguns indígenas estão apresentando resistência aos fármacos, uma ameaça ao tratamento já existe, e é iminente, bem como as estratégias de controle da tuberculose.

"Todo o tratamento convencional, de uma pessoa não resistente, custa em média U$ 20,00 ao Sistema Único de Saúde (SUS). De uma pessoa resistente pode chegar ao valor de U$ 200,00 por mês", explica a médica.

Descobrir cedo

Doutora Eunice destacou que o cerne de todo o processo é a transmissibilidade. "Sabendo a raiz da bactéria e dessas pessoas que são resistentes, podemos iniciar o tratamento muito mais rápido e impedir a infecção de outras pessoas".

A especialista disse que a pesquisa é uma forma de mostrar aos poderes públicos a necessidade de encontrar as pessoas resistentes aos medicamentos quanto antes.

"Isso tudo é uma forma de mostrarmos para as autoridades e buscarmos essas pessoas antes delas infectarem outras pessoas. Ainda não conseguimos controlar os casos de tuberculose de maneira geral. O tratamento deveria ser mais precoce. As conexões existem", finaliza a autora.

Colaborações na pesquisa

O artigo é fruto de uma parceria estabelecida com uma equipe da Michigan State University (MSU), instituição de ensino e pesquisa norte-americana. Contou ainda com a colaboração do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e do Lacen-MS, além do apoio do Instituto Adolfo Lutz (IAL) de São Paulo e de pesquisadores da Fiocruz.

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