'Você não ficou preso em casa. Ficou salvo em casa', diz cientista sobre quarentena - Saúde - Estadão

Mortes por coronavírus no Brasil já poderiam estar próximas a um milhão, diz pesquisador em vídeo que explica ritmo de contágio


RIO – O Brasil já poderia estar bem perto de alcançar a marca de um milhão de casos da covid-19 se não tivesse adotado medidas de distanciamento social. A conclusão está no vídeo “A quarentena pode estar salvando o Brasil”, publicado pelo engenheiro e cientista de dados Maurício Féo. O pesquisador faz doutorado em física de partículas no Cern – a organização europeia de pesquisa nuclear que opera o maior acelerador de partículas do mundo, em Genebra, Suíça. 

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No vídeo, que já teve 500 mil visualizações desde que foi publicado em uma rede social no último dia 30, Féo explica que, se nenhuma medida é tomada e se não há vacina, toda epidemia cresce exponencialmente – ou seja, o valor inicial é multiplicado por um mesmo número num dado período de tempo. No caso da atual epidemia, se uma pessoa contamina duas e essas duas infectam mais duas e assim por diante, é fácil perceber que, em pouco tempo, esse crescimento alcança valores muito altos.

Até somar os primeiros 1,5 mil casos, explica Féo, a epidemia brasileira estava crescendo exponencialmente. Quando a quarentena é decretada em São Paulo, que concentra o maior número de casos, em 23 de março, mostra o cientista, a curva passa a seguir outra tendência, tornando-se menos íngreme. 

Quando a curva brasileira é comparada à americana – onde o distanciamento social foi adotado bem mais tarde – é fácil percerber como a nossa curva cresceu bem mais vagarosamente.“O número de casos ainda está crescendo, mas não está seguindo a escala exponencial que seguia antes”, diz Féo. “Em algum momento começa a desacelerar e isso, certamente, foi devido às medidas que vários Estados adotaram.” No vídeo, Féo conclui: “Você não ficou preso em casa, ficou a salvo em casa.”

Estava decepcionado com a quantidade de desinformação sendo passada durante a pandemia. Não sou qualificado para dizer até quando deve ir a quarentena, até onde o dano econômico é aceitável, mas estou vendo pessoas apoiarem um lado ou outro baseadas em política e espalhando desinformação. Vi gente argumentando que muitas pessoas estão morrendo do mesmo jeito, então a quarentena não serviu de nada. Não sou qualificado para opinar sobre saúde e economia, mas qualificado para dizer que temos de levar em conta os dados certos. E foi isso que quis apresentar.

O número de casos ainda esta aumentando, e bastante, mas não em proporção exponencial, graças, certamente, às medidas adotadas de distanciamento social, uso de máscara e higiene pessoal. Vemos claramente que, no início, o crescimento da curva é exponencial, e, por um bom tempo, continua a subir exponencialmente, mas depois começa a reduzir a velocidade de crescimento.

Exatamente, isso significa que a estratégia está sendo bem sucedida. Definir o pico da epidemia sem a adoção de nenhuma medida de prevenção é fácil, os epidemiologistas no mundo inteiro já fizeram isso. Então vemos o pico ser adiado. Se o pico não chegou na projeção esperada, significa que foi um sucesso. Não é uma má notícia.

Aqui começamos a agir quando tínhamos 1,5 mil casos. Nos EUA demoraram muito mais. Provavelmente teríamos seguido a mesma trajetória deles. Veja que no mesmo dia em que o Brasil tem 79 mil casos, os EUA apresentam 735 mil, quase dez vezes mais. Mesmo que a subnotificação no Brasil seja na casa de dez, teríamos 790 mil casos. Mas os EUA também têm subnotificação. E mesmo que a deles fosse apenas de dois, já teriam mais de um milhão de casos.



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